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Experiências Dialógicas: Arte, campo da arte e contexto social (parte 2)

No último dia do tallerExperiências Dialógicas: Arte, campo da arte e contexto social” cada participante deveria desenvolver ou falar sobre um projeto de sua autoria que tivesse relações com as questões levantadas ao longo dos encontros. O foco principal seriam, em linhas bem gerais, tentativas de criar comunidades efetivas de contato com o público. Nós levamos a própria Temporada de Projetos na Temporada de Projetos, apresentamos brevemente a proposta com o apoio deste website e sugerimos discutir duas coisas que interessavam para nós naquele contexto:
  1. Se a curadoria poderia ser entendida como uma pergunta ou um ponto de partida para uma pesquisa, ao invés de ser afirmativa de algo ou uma tese pronta que se apresenta e ponto. Nesse sentido, pensamos em enunciar o próprio texto curatorial de parede na forma de perguntas, do tipo até banal como “o que é um projeto” e “para que fazer um projeto”, dissemos também que a idéia seria que ao longo da exposição respostas novas perguntas poderiam se aderir ao texto curatorial.
  2. Se a curadoria pode ser apresentada como um espaço paradoxal. Isso, ao nosso ver, se daria com a inclusão na esfera pública dos motivos de cada um que recusou participar da Temporada de Projetos na Temporada de Projetos, transformando os motivos em material para discussão e reflexão crítica.
Retrospectivamente, percebemos com mais facilidade que talvez a maior dificuldade em discutir esses dois pontos foi a maneira como apresentamos a proposta para poder chegar a eles. Tínhamos pouco tempo e não pudemos explicar com calma e clareza do que se tratava exatamente a proposta, por isso acabamos encavalando essas duas discussões ao longo de toda nossa fala, algo que talvez tenha gerado confusão em relação aos objetivos mais gerais da proposta (em oposição a esses dois, mais específicos). De qualquer modo, a reação de Manuel Segade foi bastante interessante, ainda que infelizmente, por conta da falta de tempo e dos impedimentos linguísticos, ainda não tenhamos muita certeza se entendemos o que ele falou. Por isso apresentamos aqui, obviamente, a nossa recepção de dois aspectos específicos (cada um ligado a um dos pontos que nos interessava discutir) cujas possibilidades ele problematizou: nuances entre dúvida e pergunta e a instituição de um espaço paradoxal.

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Primeiro, em relação ao texto de parede com perguntas, Segade apontou para o fato de que perguntas não geram dúvida, mas sim respostas, definições de dicionário. E aí se encontrava, e ele foi bastante perspicaz nessa observação, uma confusão nossa. Quando colocássemos na parede perguntas, não incitaríamos uma reflexão crítica (a dúvida), mas sim a afirmatividade, ou seja, a criação de respostas. Mais ainda, ele defendeu que o próprio espaço é quem deve fazerz surgirem perguntas (por meio da disposição dos projetos, os projetos em si, as atividades que ocorrem ali, que também são ferramentas de retorno, feedback, até mais interessantes do que uma lousa de respostas). A própria exposição dos projetos como um ato discursivo. E também que, se não queremos que os projetos necessariamente se tornem objetos de apreço estético (obras), então não faria sentido buscar um formato de apresentação de obras (ou seja, um texto curatorial de parede típico dessas exposições, ainda que diferente). Outro comentário feito pelo Segade foi que o uso de tantas estratégias (principalmente as plataformas na internet, oficinas e encontros) indica que o nosso desejo é criar uma instituição, uma que não temos (na cidade). O primeiro problema seria que, no entendimento dele, uma dúvida não se estrutura ou formaliza de modo instituicional e que a dúvida já está em qualquer prática artística ou curatorial, isto é, que em arte uma tese sempre é uma dúvida. Clarissa Diniz lembrou então da afirmação do curador Nicolas Bourriaud que diz que quando tem uma dúvida faz uma curadoria, quando tem certeza escreve um livro (por exemplo quando ele responde à oitava pergunta dessa entrevista). O segundo problema seria que esse tipo de instituição, pautada na dúvida, também é movida por uma energia hegemônica, autoritária, ainda que se trate da hegemonia da dúvida; essa hegemonia gera um sem-fim de dúvidas, isto é, dúvidas que geram dúvidas que geram dúvidas e assim por diante, uma massa que corre e se multiplica e acaba se formalizando numa instituição do tipo dúvida, mas cuja formalização não é dúvida propriamente. O paralelo traçado então foi com a documenta XI de Okwui Enwezor, na qual, segundo Segade, a ‘maquinária’ se extendeu e se extrapolou de tal forma que se converteu em algo exuberante, de suporte em suporte, gerando muitas plataformas que não podiam ser acompanhadas ou seguidas satisfatoriamente por quase ninguém, o que resulta na perda força política das ações, que se encontram difusas (até por entrarem num nível de meta-reflexão que não corresponde mais ao projeto original). O próprio Segade sugeriu também que talvez não devêssemos nos afastar dessa idéia de instituição, mas sim nos apropriar dela, convertê-la numa potência da proposta (já que estaríamos tentando trazer uma instituição interessante para a cidade onde não a encontramos). Nesse sentido, ele apontou que a proposta se estrutura em contradições e que o interessante é que elas sejam colocadas, explicitadas e não revestidas de perguntas. E que as atividades (institucionais) encontros, oficinas, sejam a potência (institucional) discursiva funcional e coesa (ausente nos projetos como conjunto, como ‘exposição’) que se oferece para a comunidade artística. Em relação à tentativa de criar um espaço paradoxal, Segade apontou que, novamente, o espaço será paradoxal pelas ausências de alguns projetos (dos artistas que escolheram não participar); como essas ausências estarão explícitas, então naturalmente gerarão uma tensão, enfrentamento. Aí, disse ele, há uma questão muito interessante relacionada ao objetivo de criar um vínculo, que é o que se dá por meio do confronto. Inclusive, em termos, esse confronto no qual ele mesmo avança ao criticar a Temporada de Projetos na Temporada de Projetos; que, ele mesmo fez ressalvas, não é uma crítica (confronto) por assim dizer pois a proposta ainda não foi de fato realizada por inteiro, se tratando então de uma crítica ao que ele via e entendia estar acontecendo e se construindo naquele momento a partir do nosso relato.