21 de June de 2007

Tudo que você sempre quis saber…

… sobre tudo que você sempre quis saber.

Filed by rhwinter at June 21st, 2007 under circular, meta, conto
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27 de April de 2007

“Bip bip”

Caso você entenda inlês, sugiro que leia esse texto na língua na qual foi originalmente escrito.

Hoje uma pequena nave pousou na minha cabeça. É claro que eu não me dei conta imediatamente. Vinha descendo a rua e senti uma espécie de picada. Uma dessas tão incrivelmente aborrecedoras que obrigam a pessoa a parar o que quer que esteja fazendo só pra tentar coçá-la ou fazer qualquer outra coisa o mais rápido possível.

E foi exatamente isso que fiz. Primeiro pensei que era um mosquito, desses que tem por aí. Mas a picada estava doendo demais, o que me levou a concluir que devia ser uma outra coisa, provavelmente uma abelha.

Na verdade cheguei a essa conclusão durante os instantes nos quais a minha mão atravessava o espaço entre a posição onde estava e o local na minha cabeça onde tinha sentido a picada. (Por que isso importa?) Essa decisão fez com que o meu braço desacelerasse e a minha mão atingiu o alvo muito menos violentamente do que achou que ia quando saiu em direção a ele. Mas nada disso importou, talvez porque eu não tenha chegado a conclusão de que poderia ser uma abelha rapido o suficiente, ou então porque meu braço não é bem treinado para realizar o movimento que lhe foi pedido.

Não, não importou: o que quer que fosse, foi esmagado na hora em que a palma da minha mão chegou. Eu sentia que estava esmagado, mas também sentia que era diferente do que estava esperando. Tão diferente, pra ser sincero, que demorei ainda mais do que da outra vez para chegar a uma conclusão: na realidade não era uma abelha, nem um inseto, muito menos algo orgânico, parecia metálico. “Talvez papel alumínio” pensei que poderia dizer enquanto pensava em mim mesmo contando a história mais tarde. Mas nem isso era totalmente verdade; conforme aproximei essa coisa dos meus olhos pra analisá-la melhor, não foram eles, mas meus ouvidos que não acreditaram: eu podia ouvir um sutil som vindo dessa coisa, que, agora tão perto dos meus olhos, podia ver e descrever como um estranho pequeno pedaço de batata cozida escapando o seu invólucro original de papel alumínio.

Não me lembro muito bem o que aconteceu depois, mas tenho quase certeza que ouvi o som incrivelmente agudo que me lembrou aquele que raramente fazem os carros quando os pneus derrapam no chão de um jeito muito específico. Ainda assim, o ruído era muito sutil, e ficava cada vez mais sutil conforme passava o tempo em que eu simplesmente ficava ali parado sem fazer nada.

A essa altura, de alguma forma, eu já tinha bastante clareza do que estava acontecendo: uma espaçonave do tamanho de um grão de arroz, provavelmente depois de ter viajado mais tempo do que vale a pena mencionar, chegou à Terra e pousou na minha cabeça; mas, antes de poder fazer qualquer outra coisa, eu a esmaguei sem nenhum remorso ou conhecimento das minhas ações. Imediatamente me senti culpado (mas, devo admitir, muito menos do que deveria, considerando a situação).

Eu ainda não tinha a menor idéia do que deveria fazer, então acho que fiz o que qualquer um faria nessas condições: fechei a mão, tomando cuidado pra não destruir mais ainda a nave, e corri pra casa o mais rápido que pude. É difícil explicar, agora que penso nisso com mais clareza, mas pensei na hora que, de alguma forma, estaria mais bem equipado em casa para ajudá-los se estivéssemos em casa.

O que é ainda mais difícil de explicar é como eu, sem perceber, deixei o negócio cair no chão enquanto corria e cheguei em casa com nada mais do que um rosto mais suado do que eu tinha tido em anos e uma mão vazia. É verdade.

Esse curtíssimo conto é parte de uma série de contos nunca antes publicada (e, provavelmente, inpublicável) simplesmente pois foram escritos, serialmente, por ninguém menos que eu (que nunca se deu ao trabalho de publicá-los).

Filed by rhwinter at April 27th, 2007 under arte, conto
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11 de April de 2007

“Quantas pessoas moravam ali?”

Caso você entenda inlês, sugiro que leia esse texto na língua na qual foi originalmente escrito (e não o portuglês abaixo).

“Quantas pessoas moravam ali?” ela se perguntava outra vez. E essa não era a primeira vez que se perguntava e também não seria a última. Na verdade a primeira vez que pensou nisso foi há muito tempo, e a última seria só num futuro muito longínquo, minutos antes de morrer. Mas mesmo antes da primeira vez que pensou nisso outros já tinham se perguntado a mesma coisa. “Quantas pessoas moravam ali?” uma questão aparentemente muito simples, mas que pode ter uma surpreendente variedade de respostas. Mas não é agora que nenhuma delas será descoberta. Na verdade nenhuma delas jamais seria descoberta, pois ela, que se perguntava, não era capaz de responder, nem podia ajudar outros a fazê-lo. Transtorno de personalidade múltipla é, realmente, uma merda.

Esse curtíssimo conto é parte de uma série de contos nunca antes publicada (e, provavelmente, inpublicável) simplesmente pois foram escritos, serialmente, por ninguém menos que eu (que nunca se deu ao trabalho de publicá-los).

Filed by rhwinter at April 11th, 2007 under arte, conto
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9 de April de 2007

“Fred”

Caso você entenda inlês, sugiro que leia esse texto na língua na qual foi originalmente escrito.

É verdade que a televisão estava ligada e que, dentro dela, essas pessoas que chamamos de celebridades estavam falando sobre os assuntos que menos interessavam a Fred. Mesmo assim, sua mente se ocupava com uma coisa. Uma única coisa. Uma pequena coisa. Uma única pequena coisa.

É bom interromper essa abordagem antes que ela comece a se arrastar demais. Por isso uma explicação se faz necessária nesse ponto. E não é de se admirar que essa explicação seja sobre o funcionamento do televisor. A maneira mais simples de ver as coisas é: a t.v. consiste em uma tela sensível a elétrons e um canhão desses últimos (i.e. elétrons). Conforme o canhão ejeta elétrons, esses desgraçados de vida curta atingem a tela um por um e são transformados em luz que é, inevitavelmente, emitida em direção a quem quer que esteja sentado em frente a todo esse maravilhoso aparato (não que seja possível sentar em frente a uma parte do aparato, a menos que ele esteja desmontado; mas isso não importa agora). O que realmente importa é que essa tela é feita de tal forma que é dividida em vários pequenos quadrados, cada um com uma certa cor, desenhados especificamente para serem atingidos pelos elétrons mencionados anteriormente. Esses pequenos quadrados são, por uma razão não importante agora, chamados pixels.

E era exatamente isso que prendia toda a atenção de Fred: um único pixel na sua televisão. Nem os inquestionavelmente altos sons, vozes, música ou os eventuais burricos selvagens podiam atrapalhar sua concentração. Não mesmo.

Conforme ele olhava para esse pixel específico ele podia ver como ele ligava e desligava, como ele rapidamente mudava, como, por nenhum motivo aparente, ele fazia todas essas coisas sem nem ter que pensar sobre elas.

E isso, pensava Fred, ainda fixando sua sua inabalável atenção naquele pixel, era realmente algo a se pensar. Realmente era.

Esse curtíssimo conto é parte de uma série de contos nunca antes publicada (e, provavelmente, inpublicável) simplesmente pois foram escritos, serialmente, por ninguém menos que eu (que nunca se deu ao trabalho de publicá-los).

Filed by rhwinter at April 9th, 2007 under arte, conto
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