Arquivo do mês de agosto de 2009

em: 31/08/2009

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Divulgação da Programação do ‘III Simpósio de Arte Contemporânea’

Já há algum tempo a equipe do Paço havia nos contatado sobre a possibilidade de participrmos do Simpósio, no qual poderíamos falar um pouco sobre a Temporada de Projetos na Temporada de Projetos. Esse convite foi formalizado há algum tempo e hoje foi divulgada, no site do Canal Contemporâneo, a programação do Simpósio, que inclui a sessão na qual participaremos:
26 de Outubro, segunda feira 10h – 12h15 Espaços, intercâmbios e cooperação no âmbito da arte Palestrantes: James Wallbank (Access-Space, Sheffield), Roberto Gomez de la Iglesia (Grupo Xabie, Espanha) e Gitta Luiten (diretora da Mondrian Foundation) [a ser confirmada] Cases: Temporada na temporada – Roberto Winter e Luiza Proença; Ocupação – Patricia Canetti [a ser confirmada] Mediação: Gisele Beilgueman Debatedor: Marcos Moraes (FAAP) Quais os novos espaços que a arte contemporânea vem designando para a sua manifestação hoje? Criação de redes, relações com a universidade, mídia-labs, residências. Quais os modos e processos de produção e institucionalização na arte? A arte altera os formatos existentes no sistema da arte ou é o sistema da arte que altera os formatos artísticos?

Experiências Dialógicas: Arte, campo da arte e contexto social (parte 2)

No último dia do tallerExperiências Dialógicas: Arte, campo da arte e contexto social” cada participante deveria desenvolver ou falar sobre um projeto de sua autoria que tivesse relações com as questões levantadas ao longo dos encontros. O foco principal seriam, em linhas bem gerais, tentativas de criar comunidades efetivas de contato com o público. Nós levamos a própria Temporada de Projetos na Temporada de Projetos, apresentamos brevemente a proposta com o apoio deste website e sugerimos discutir duas coisas que interessavam para nós naquele contexto:
  1. Se a curadoria poderia ser entendida como uma pergunta ou um ponto de partida para uma pesquisa, ao invés de ser afirmativa de algo ou uma tese pronta que se apresenta e ponto. Nesse sentido, pensamos em enunciar o próprio texto curatorial de parede na forma de perguntas, do tipo até banal como “o que é um projeto” e “para que fazer um projeto”, dissemos também que a idéia seria que ao longo da exposição respostas novas perguntas poderiam se aderir ao texto curatorial.
  2. Se a curadoria pode ser apresentada como um espaço paradoxal. Isso, ao nosso ver, se daria com a inclusão na esfera pública dos motivos de cada um que recusou participar da Temporada de Projetos na Temporada de Projetos, transformando os motivos em material para discussão e reflexão crítica.
Retrospectivamente, percebemos com mais facilidade que talvez a maior dificuldade em discutir esses dois pontos foi a maneira como apresentamos a proposta para poder chegar a eles. Tínhamos pouco tempo e não pudemos explicar com calma e clareza do que se tratava exatamente a proposta, por isso acabamos encavalando essas duas discussões ao longo de toda nossa fala, algo que talvez tenha gerado confusão em relação aos objetivos mais gerais da proposta (em oposição a esses dois, mais específicos). De qualquer modo, a reação de Manuel Segade foi bastante interessante, ainda que infelizmente, por conta da falta de tempo e dos impedimentos linguísticos, ainda não tenhamos muita certeza se entendemos o que ele falou. Por isso apresentamos aqui, obviamente, a nossa recepção de dois aspectos específicos (cada um ligado a um dos pontos que nos interessava discutir) cujas possibilidades ele problematizou: nuances entre dúvida e pergunta e a instituição de um espaço paradoxal.

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Primeiro, em relação ao texto de parede com perguntas, Segade apontou para o fato de que perguntas não geram dúvida, mas sim respostas, definições de dicionário. E aí se encontrava, e ele foi bastante perspicaz nessa observação, uma confusão nossa. Quando colocássemos na parede perguntas, não incitaríamos uma reflexão crítica (a dúvida), mas sim a afirmatividade, ou seja, a criação de respostas. Mais ainda, ele defendeu que o próprio espaço é quem deve fazerz surgirem perguntas (por meio da disposição dos projetos, os projetos em si, as atividades que ocorrem ali, que também são ferramentas de retorno, feedback, até mais interessantes do que uma lousa de respostas). A própria exposição dos projetos como um ato discursivo. E também que, se não queremos que os projetos necessariamente se tornem objetos de apreço estético (obras), então não faria sentido buscar um formato de apresentação de obras (ou seja, um texto curatorial de parede típico dessas exposições, ainda que diferente). Outro comentário feito pelo Segade foi que o uso de tantas estratégias (principalmente as plataformas na internet, oficinas e encontros) indica que o nosso desejo é criar uma instituição, uma que não temos (na cidade). O primeiro problema seria que, no entendimento dele, uma dúvida não se estrutura ou formaliza de modo instituicional e que a dúvida já está em qualquer prática artística ou curatorial, isto é, que em arte uma tese sempre é uma dúvida. Clarissa Diniz lembrou então da afirmação do curador Nicolas Bourriaud que diz que quando tem uma dúvida faz uma curadoria, quando tem certeza escreve um livro (por exemplo quando ele responde à oitava pergunta dessa entrevista). O segundo problema seria que esse tipo de instituição, pautada na dúvida, também é movida por uma energia hegemônica, autoritária, ainda que se trate da hegemonia da dúvida; essa hegemonia gera um sem-fim de dúvidas, isto é, dúvidas que geram dúvidas que geram dúvidas e assim por diante, uma massa que corre e se multiplica e acaba se formalizando numa instituição do tipo dúvida, mas cuja formalização não é dúvida propriamente. O paralelo traçado então foi com a documenta XI de Okwui Enwezor, na qual, segundo Segade, a ‘maquinária’ se extendeu e se extrapolou de tal forma que se converteu em algo exuberante, de suporte em suporte, gerando muitas plataformas que não podiam ser acompanhadas ou seguidas satisfatoriamente por quase ninguém, o que resulta na perda força política das ações, que se encontram difusas (até por entrarem num nível de meta-reflexão que não corresponde mais ao projeto original). O próprio Segade sugeriu também que talvez não devêssemos nos afastar dessa idéia de instituição, mas sim nos apropriar dela, convertê-la numa potência da proposta (já que estaríamos tentando trazer uma instituição interessante para a cidade onde não a encontramos). Nesse sentido, ele apontou que a proposta se estrutura em contradições e que o interessante é que elas sejam colocadas, explicitadas e não revestidas de perguntas. E que as atividades (institucionais) encontros, oficinas, sejam a potência (institucional) discursiva funcional e coesa (ausente nos projetos como conjunto, como ‘exposição’) que se oferece para a comunidade artística. Em relação à tentativa de criar um espaço paradoxal, Segade apontou que, novamente, o espaço será paradoxal pelas ausências de alguns projetos (dos artistas que escolheram não participar); como essas ausências estarão explícitas, então naturalmente gerarão uma tensão, enfrentamento. Aí, disse ele, há uma questão muito interessante relacionada ao objetivo de criar um vínculo, que é o que se dá por meio do confronto. Inclusive, em termos, esse confronto no qual ele mesmo avança ao criticar a Temporada de Projetos na Temporada de Projetos; que, ele mesmo fez ressalvas, não é uma crítica (confronto) por assim dizer pois a proposta ainda não foi de fato realizada por inteiro, se tratando então de uma crítica ao que ele via e entendia estar acontecendo e se construindo naquele momento a partir do nosso relato.
em: 28/08/2009

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Encontro com Paula Alzugaray

Já tínhamos conversado com a Paula Alzugaray no começo do ano sobre a participação dela no ciclo de workshops da Temporada de Projetos na Temporada de Projetos, mas faltava definir como ela será. Por isso hoje, mais próximo a data da abertura da exposição, nos encontramos no Centro Cultural São Paulo, onde a Paula falou da sua idéia de desenvolver uma conversa sobre as correspondências/diferenças entre as noções de “projeto” e “processo”. Assim, a oficina seria mais uma conversa do que uma proposta prática (como ela já tinha comentado conosco, por ela ter sido do juri do último edital do Paço das Artes, não gostaria de realizar uma oficina de “análise de projeto e portfólio” em que ela teria que responder como júri aos participantes).
Foto de uma das salas do Salon Light na Galeria Vermelho, na mesa da direita ainda estava o livro 72 (clique na imagem para vê-la no Flickr).

Foto de uma das salas do Salon Light na Galeria Vermelho, na mesa da direita ainda estava o livro "72" (clique na imagem para vê-la no Flickr e saber onde).

Para realizar uma atividade mais teórica, a Paula pesquisaria sobre um assunto que interessa à ela (ela vem desenvolvendo pesquisa sobre o documental e práticas de arquivo na arte), mas afirmou que ainda tem pouca referência bibliográfica sobre “projeto” (nesse mesmo encontro, nós levamos para ela alguns textos que podem ajudar, entre eles o “The Loneliness of the Project“, de Boris Groys, e um livro chamado “72 (projets pour ne plus y penser)“, que adquirimos na feira de publicações de artista “Salon Light“, organizada pelo CNEAI e pela Galeria Vermelho. Já ela nos trouxe como referência um livro da pesquisadora Cecília Salles. Paula nos mostrou uma pequena descrição do que seria o foco desse workshop: “pensar o que estrutura um projeto e não como se julga um projeto”. E colocou como pauta duas questões: “o processo como obra ” e “o projeto como obra”. Achamos a idéia da Paula bastante interessante, e dissemos que não é essencial que exista uma parte prática no workshop, porém que poderíamos manter o foco em artistas como público participante, pois eles poderiam contribuir para a reflexão de processo e projeto pensando como cada um lida com a sua produção. Colocada essa observação, a Paula sugeriu então um workshop com duas partes, a primeira mais expositiva, em que ela falaria sobre a sua pesquisa, e a segunda em que os artistas mostrassem projetos para uma conversa sobre as suas práticas artísticas dentro do assunto exposto. Pensamos que 10 participantes seria um número ideal, e que para a inscrição o interessado deverá descrever brevemente o interesse no workshop. Terminadas as incrições, conversamos que seria melhor ela receber os projetos dos participantes antes do encontro, para um melhor aproveitamento na hora do encontro; e também receber os seus endereços de email, para poder estabelecer contato com eles (para, por exemplo, encaminhar uma bibliografia sobre os assuntos a serem abordados). A data da oficina será 22 de Outubro, quinta-feira, das 14 às 17hrs. Em breve disponibilizaremos mais informações para as inscrições.

Experiências Dialógicas: Arte, campo da arte e contexto social

Desde o mês de Maio, sempre na última semana dos meses de 2009, o Centro Cultural da Espanha realiza o programa ‘Experiências dialógicas’, organizado por Márcio Harum. O programa  conta com oficinas (talleres) teóricas em formato de curso intensivo com duração de 5 dias de 4 horas, e é apresentado como “uma iniciativa de formação não convencional em direção a novos posicionamentos da crítica e curadoria de arte em contexto ibero-americano”. Em agosto os convidados à coordenação da oficina foram Clarissa Diniz (crítica, Recife- PE) e Manuel Segade (curador, Espanha) e o tema era “Arte, campo da arte e contexto social”. Participaram da oficina: Clarissa Diniz, Manuel Segade, Heloisa Louzada, Márcio Harum, Rita Jimenez, Luiza Proença, Roberto Winter, Beto Shwafaty, Deyson Gilbert, Douglas de Freitas, Julia Ayerbe, Livia Benedetti, Jaime Lauriano, Fernanda Dagostino, Sandra Leibovici, Patrícia Basile,  Rogério Lacerda, Fernanda Fatureto, Vanessa Sobrino e Ligia Carvalho. No primeiro dia, Manuel Segade apontou questões bastante interessantes ao longo da apresentação sobre a sua experiência como curador do Centro Galego de Arte Contemporanea em Santiago da Compostela. Segade contou o caso de uma exposição que curou para a comemoração dos 15 anos do Centro chamada “SITUACIÓN“. Segundo ele, havia uma pressão política para fazer uma exposição comemorativa, mas a equipe do Centro decidiu fazer uma exposição que não fosse uma manifestação de glória, e sim que provocasse um sentimento de perda e reflexão. Foram convidados somente artistas emergentes que se formaram e trabalham na Galícia, entre eles o artista Enrique Lista, que não trabalha primariamente como artista mas, um pouco a contragosto, trabalha como designer para conseguir sobreviver e continuar vivendo na Galícia. O trabalho de Enrique Lista para essa exposição era uma reflexão sobre os artistas que como ele se formaram no sul da Galicia, mas que não encontram meios de atuarem como artistas na própria Galícia. Escute um pouco a descrição do Manuel Segade sobre esse trabalho (em castelhano):

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Uma outra coisa que nos interessou foi quando Segade comentou sobre uma enquete sobre a esfera da arte na Galícia, que foi realizada paralelamente à exposição e com a participação de curadores galegos. De 200 curadores contatados, somente 37 se dispuseram a responder a enquete, contrastando bastante com as 3000 pessoas (dos quais muitos eram curadores) que vieram para a abertura da exposição. A idéia era também realizar mesas de discussões, algo que não funcionou por falta de interesse e participantes. Todo a proposta da exposição girava em torno de como podemos fabricar algo positivo a partir do erro coletivo, criando uma verdadeira comunidade. Ao fim, Segade leu uma citação de Samuel Beckett, que pensa o erro como disciplina e que se refere ao risco de aplicar o método científico no âmbito cultural, pois o método científico é uma metodologia econômica, e então quando fazemos essa aplicação estaríamos nos metendo no âmbito do capital que não corresponde diretamente ao mundo cultural: “Ever tried. Ever failed. No matter. Try again. Fail again. Fail better.” Após a fala do Segade, algumas pessoas fizeram perguntas. Uma delas foi a respeito da exposição dos preços de custo de cada trabalho junto com a etiqueta de identificação da obra, a outra foi se não seria interesante na Espanha se não fossem criados editais para jovens artistas como acontece no Brasil. Segade respondeu que colocar os preços ao lado das obras é explicitar que o conteúdo do centro é público (enquanto isso, nem nós, que realizamos um trabalho no Paço das Artes, não temos acesso ao orçamento reservado para a exposição que organizamos), e em resposta à segunda pergunta afirmou que acha que essas fórmulas existem na Espanha com um nível de precariedade, pois as instituições jogam com o voluntarismo dos próprios artistas e isso é um perigo muito grande na profissionalização porque provoca figuras da repetição contínua, do mesmo, economizadas, taxonomizadas. “Jogar somente com voluntarismo é entender que o espaço é voluntarista, generoso, de segunda fila, e isso é arriscado pois estará promovendo com dinheiro público que arte é barata e não criando estruturas reais para os artistas. Os governos são muito paternalistas e funcionam com demanda muito concreta, quando demanda está coberta a ação desaparece. No momento que aparece uma instituição privada que oferece bolsas para os artistas, o governo já não vai mais se preocupar com bolsas”, explicou Segade. Clarissa Diniz, por sua vez, apresentou o caso da revista Tatuí (da qual ela é uma das fundadoras) e de como ela pensa o papel do crítico de arte. Como crítica, ela se cobra para “correr” atrás do artista, como uma questão ética e política, ao contrário de muitos profissionais que pedem para que artistas se dirijam até eles para mostrar seus trabalhos por meio de portfólios, submetendo-se à uma análise que, para Clarissa, é superficial. Clarissa falou de uma “intectualização do artista” e de uma “racionalização” dos trabalhos de arte, que são auto-explicativos e já vêm codificados ao crítico. Comentou que a lógica dos portfólios e do concurso obriga o artista  a se candidatar as coisas. A partir da fala da Clarissa houve uma discussão bastante interessante, escute aqui:

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Após esse primeiro encontro, encontramos um texto interessante na última edição da Revista Tatuí sobre a situação das artes no Ceará. Aqui vai um trecho:

“As políticas públicas para as artes no Ceará estão cada vez mais restritas a editais, estratégia delicada que requer uma reflexão particular. Por um lado, os editais dividem o bolão da verba destinada à cultura de maneira mais ou menos equânime entre as áreas. Por exemplo, em artes visuais temos pesquisa, exposição, publicação e circulação. Daí, uma comissão premia uma certa parcela de projetos a serem realizados durante o ano e dentro disso se conclui a política pública para as artes no estado. Os artistas, que não são muitos, ficam felizes, porque vez ou outra será um deles o felizardo a receber o bolão; os projetos ainda contam com uma certa flexibilidade no seu implemento. Isto, muitas vezes, acarreta um direcionamento totalmente diferente daquilo que fora inicialmente proposto, sem que esta alteração seja ao menos discutida. Pronto: temos um resultado concreto para constar nos autos do Governo e os artistas ficam quietinhos com sua fatia orçamentária particular garantida. E ai de quem ameaçar retirá-la!

Podemos perceber o quão cômodo é para o Governo manter esse tipo de política pública, pois no máximo eles só devem se preocupar com: a publicação de um edital (cheio de lacunas, por sinal); uma seleção cujos critérios são pouco discutidos; a prestação de contas. Com isso, se redimem de desenvolver ações direcionadas ao fomento e reflexão da produção ou ações formativas e de circulação. Para os artistas, isso também é cômodo, pois garante, em parte, sua produção individual neste curto espaço de tempo. Isto tudo me parece ser por vezes preguiça de pensarmos de maneira coletivista e projetiva.

O município, além de também ter se adequado à política de editais _ o que duplicou o número de premiados anuais _ mantém um salão falido, que a cada ano veste um modelo novo, seja na seleção ou nos espaços expositivos, mas que no final das contas continua com uma mostra desarticulada e mal tratada, montada como que de improviso em galerias capengas e locais equivocados. Por outro lado, é um pouco mais animador que nesta atual gestão municipal percebamos uma articulação política mais consciente das necessidades do desenvolvimento das artes visuais.” (SMITH, Mariana. “Fortaleza sem Sabor”. In: Revista Tatuí número 6, 2009.)

Nos outros dias do taller fizemos uma visita à Casa da Xiclet, que faz exposições parodiando o circuito de arte (mas também fazendo parte dele); recebemos o Guy Amado, fundador e professor do Éden 343, que falou principalmente sobre o programa de Acompanhamento de Processos Artísticos realizado por ele, pela crítica Juliana Monaschesi; conversamos com o artista Rafael Campos Rocha, que também participa de algumas atividades do Éden 343, e o crítico de arte José Bento Ferreira. Uma das coisas que Guy Amado comentou foi que os alunos pedem orientações sobre como enviar trabalhos aos editais e salões de arte e muitas vezes perguntam como deixar o trabalho com um aspecto mais contemporâneo. Já Rafael Campos Rocha quis deixar bem claro que não faz esse tipo de acompanhamento crítico, isto é, voltado à apresentação da produção em editais, salões e similares, mesmo achando importante estimular os artistas à participarem de seleções.
No último dia do taller cada participante deveria desenvolver ou falar sobre um projeto de sua autoria que tivesse relações com as questões levantadas ao longo dos encontros. O foco principal seriam, em linhas bem gerais, tentativas de criar comunidades efetivas de contato com o público. Nós levamos a própria Temporada de Projetos na Temporada de Projetos, apresentamos brevemente a proposta com o apoio deste website e sugerimos discutir duas coisas que interessavam para nós naquele contexto:
Se a curadoria poderia ser entendida como uma pergunta ou um ponto de partida para uma pesquisa, ao invés de ser afirmativa de algo ou uma tese pronta que se apresenta e ponto. Nesse sentido, pensamos em enunciar o próprio texto curatorial de parede na forma de perguntas, do tipo até banal como “o que é um projeto” e “para que fazer um projeto”, dissemos também que a idéia seria que ao longo da exposição respostas novas perguntas poderiam se aderir ao texto curatorial.
Se a curadoria pode ser apresentada como um espaço paradoxal. Isso, ao nosso ver, se daria com a inclusão na esfera pública dos motivos de cada um que recusou participar da Temporada de Projetos na Temporada de Projetos, transformando os motivos em material para discussão e reflexão crítica.
Retrospectivamente, percebemos com mais facilidade que talvez a maior dificuldade em discutir esses dois pontos foi a maneira como apresentamos a proposta para poder chegar a eles. Tínhamos pouco tempo e não pudemos explicar com calma e clareza do que se tratava exatamente a proposta, por isso acabamos encavalando essas duas discussões ao longo de toda nossa fala, algo que talvez tenha gerado confusão em relação aos objetivos mais gerais da proposta (em oposição a esses dois, mais específicos).
De qualquer modo, a reação de Manuel Segade foi bastante interessante, ainda que infelizmente, por conta da falta de tempo e dos impedimentos linguísticos, ainda não tenhamos muita certeza se entendemos o que ele falou. Por isso apresentamos aqui, obviamente, a nossa recepção de dois aspectos específicos (cada um ligado a um dos pontos que nos interessava discutir) cujas possibilidades ele problematizou: nuances entre dúvida e pergunta e a instituição de um espaço paradoxal.
Primeiro, em relação ao texto de parede com perguntas, Segade apontou para o fato de que perguntas não geram dúvida, mas sim respostas, definições de dicionário. E aí se encontrava, e ele foi bastante perspicaz nessa observação, uma confusão nossa. Quando colocássemos na parede perguntas, não incitaríamos uma reflexão crítica (a dúvida), mas sim a afirmatividade, ou seja, a criação de respostas. Mais ainda, ele defendeu que o próprio espaço é quem “faz” perguntas (a disposição dos projetos, os projetos em si, as atividades que ocorrem ali, que também são ferramentas de retorno, feedback, mais interessantes do que uma lousa de respostas). E também que, se não queremos que os projetos necessariamente se tornem objetos de apreço estético (obras), então não faria sentido buscar um formato de apresentação de obras (ou seja, um texto curatorial de parede típico dessas exposições, ainda que diferente).
Outro comentário feito pelo Segade foi que o uso de tantas estratégias (principalmente as plataformas na internet, oficinas e encontros) indica que o nosso desejo é criar uma instituição, uma que não temos (na cidade). O primeiro problema seria que, no entendimento dele, uma dúvida não se estrutura ou formaliza de modo instituicional e que a dúvida já está em qualquer prática artística ou curatorial, isto é, que em arte uma tese sempre é uma dúvida. Clarissa Diniz lembrou então da afirmação do curador Nicolas Bourriaud de que quando tem uma dúvida faz uma curadoria, quando tem certeza escreve um livro (por exemplo quando ele responde à oitava pergunta dessa entrevista). O segundo problema seria que esse tipo de instituição, pautada na dúvida, também é movida por uma energia hegemônica, autoritária, ainda que se trate da hegemonia da dúvida; essa hegemonia gera um sem-fim de dúvidas, isto é, dúvidas que geram dúvidas que geram dúvidas e assim por diante, um corpo que fagocita e incorpora tudo, uma massa que corre e se multiplica e acaba se formalizando numa instituição do tipo dúvida, mas cuja formalização não é dúvida propriamente. O paralelo traçado então foi com a Documenta XI de Okwui Enwezor, na qual, segundo Segade, a ‘maquinária’ se extendeu e se extrapolou de tal forma que se converteu em algo exuberante, de suporte em suporte, gerando muitas plataformas que não podiam ser acompanhadas ou seguidas satisfatoriamente por quase ninguém, o que resulta na perda força política das ações, que se encontram difusas.
O próprio Segade sugeriu também que talvez não devêssemos nos afastar dessa idéia de instituição, mas sim nos apropriar dela, convertê-la numa potência da proposta (já que estaríamos tentando trazê-la para a cidade). Nesse sentido, ele apontou que a proposta se estrutura em contradições e que o interessante é que elas sejam colocadas, explicitadas e não revestidas de perguntas.
Em relação à tentativa de criar um espaço paradoxal, Segade apontou que, novamente, o espaço será paradoxal pela própria ausência dos projetos (dos artistas que escolheram não participar); como essa ausência estará explícita, então ela naturalmente gera uma tensão, enfrentamento. Aí, disse ele, há uma questão muito interessante, em relação ao objetivo de criar uma contato aprofundado, que é o que se dá por meio da confrontação. Inclusive, em termos, essa confrontação na qual ele mesmo se coloca ao criticar a Temporada de Projetos na Temporada de Projetos; que, ele mesmo fez ressalvas, não é uma crítica (confronto) por assim dizer pois a proposta ainda não foi de fato realizada por inteiro, se tratando então de uma crítica ao que ele via e entendia estar acontecendo e se construindo naquele momento.
em: 26/08/2009

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Perguntas de parede

Fizemos um exercício registrando várias perguntas que gostaríamos que fossem o texto de parede da exposição. Resolvemos começar fazendo as perguntas mais ligadas à idéia de projeto e incluir as perguntas que nos motivaram a desenvolver a exposição. Tudo ainda muito cru.
nossas perguntas cortadas em tirinhas sobre a mesa

nossas perguntas cortadas em tirinhas sobre a mesa

O que é um projeto?

Porque fazer um projeto? O que se espera encontrar em um projeto? Qual o destino do projeto?

O que são e como são projetos artísticos? Um projeto artístico pode estar no lugar de uma obra? O projeto contém uma parte do processo criativo?

O que significa projeto em outras áreas?

Qual relação da elaboração de projetos com a prática artística? Como essa lógica determina um tipo de arte, privilegiando um tipo de produção? Porque instituições fazem programas que se realizam a partir de projetos?

Um projeto não aceito é um projeto que falha?

O que acontece com o projeto uma vez que o que projeta concretiza-se? Qual o lugar de um projeto que não foi realizado? O que ocorre, como transcorre o tempo entre a elaboração do projeto e a realização do que ele propõe?

Como instaurar um lugar político e não só mudar o formato expositivo? Uma exposição pode se configurar como pergunta e não resposta? Qual a diferença entre curadoria e seleção? Como se faz uma exposição? Como se faz uma curadoria?

Reunião com educativo

Como já estamos em fase de decidirmos tudo que vai para a exposição marcamos uma outra reunião com o núcleo educativo do Paço das Artes para colocá-lo a par do que vem acontecendo e também para que os seus integrantes possam sugerir e pedir algumas coisas, principalmente no que se refere a expografia. Nesta reunião estiveram presentes os educadores Maralice Camillo e o Vinícius Alcadipani. A Christiana Moraes e o Claudinei Roberto da Silva, os dois coordenadores do núcleo, não puderam comparecer por conta de outros compromissos.
O assunto principal da nossa conversa foi como estamos pensando, junto com o Álvaro Razuk e a Ligia Nobre, o espaço expositivo e principalmente em como o público irá interagir com ele.
Um tópico que reapareceu durante a conversa foi a possibilidade (e necessidade) de que sempre haja alguém no espaço, como um orientador para o manuseio dos projetos que também pudesse oferecer uma porta de entrada para um diálogo sobre a exposição com cada visitante. Esse alguém não pode ser nenhum dos educadores, que sempre tem grupos para atender, porém existe a possibilidade relocar uma pessoa que atualmente fica na recepção ou ainda que um dos futuros estagiários (que o educativo terá em breve) seja designado para essa função. A outra opção (a pior delas, para nós que temos um orçamento muito restrito) seria contratar uma pessoa de fora por dois meses. Comentamos com eles sobre o texto do folder (que fizemos recentemente) e que pretendemos também ter um texto de parede (este em elaboração), porém o Paço das Artes tem uma política de não usar textos de parede nas exposições e por isso precisamos de uma autorização da diretoria. Pensamos esse texto não como um texto informativo, como talvez seja o texto do folder, mas sim um texto que seja formado exclusivamente por perguntas. Esse formato se refere também à nossa idéia recorrente de que uma exposição ou curadoria pode se apresentar como uma pergunta e não uma resposta, resultado de uma tese, pesquisa, ou ainda uma solução. Além de colocar as questões, explicamos ao educativo, gostaríamos de deixar um espaço para que o público pudesse fazer outras perguntas e que assim elas pudessem ser agregadas ao “texto curatorial” da parede.
Explicamos que os projetos estarão dipostos em prateleiras por numeração e que o visitante poderá encontrar todos os nomes dos participantes no folder, seguidos do número correspondente ao seu projeto. Uma das coisas que pensamos com a Ligia Nobre é que o público pudesse fazer algo como “roteiros”, que seriam sugestões de projeto para outros que forem visitar a exposição possam consultá-los (em outras palavras, os visitantes podem fazer seleções de projetos e deixá-las registradas para outros visitantes). Esses roteiros poderão estar disponíveis em um mural tipo cortiça (algo que acreditamos que o Álvaro deva ter esquecido de colocar no desenho do espaço!).
Outro item que surgiu na conversa foi(foram) o(s) computador(es) que estarão no espaço; já que eles poderão ser utilizados para muitas dessas atividades (os roteiros, por exemplo, podem ser adicionados diretamente a este site; as perguntas-adendo ao “texto curatorial” também). Vinícius sugeriu também que o computador conectado ao projetor poderia, em seu tempo ocioso (salva telas), mostrar alguns dos comentários deixados pelos visitantes, funcionando também como adendo ao texto de parede. Segundo Vinícius, algo similar ocorreu na exposição “Estado de Exceção“, que também ocorreu no Paço. Falamos também que gostaríamos de deixar marcado no espaço com um pequeno tracejado (em A4 ou A5) nas prateleiras as ausências daqueles que foram convidados a participar mas que recusaram ou não responderam ao nosso convite. Mais ainda, gostaríamos de colocar as cerca de 40 razões pelas quais alguns dos que recusaram afirmam não quererem participar. Para nós, a inclusão desses motivos de recusa é de extrema importância, pois além de material para discussão eles fazem com que a exposição ganhe um caráter contraditório, ou seja, os motivos podem revelar que do espaço de exposição é uma zona de tensão, ilegitimação e incerteza, algo que para nós interessa muito mais do que algo que possa parecer uma afirmação (e retoma diretamente a idéia da dúvida, das perguntas em aberto). Porém, ainda não sabemos se poderemos usar esses documentos, por motivos jurídicos. A idéia de exibir as recusas interessou muito o educativo, que nos perguntou se nós poderíamos informar a eles todos os “nãos” que já recebemos, tanto dos convidados quanto do próprio Paço das Artes no desenvolvimento da Temporada de Projetos na Temporada de Projetos. Outra coisa que conversamos foi sobre a organização do Projeto Portfólio (no qual o educativo tem convidado os artistas que expõem na Temporada de Projetos). O educativo já tinha sugerido que além de um encontro conosco dentro desse projeto poderíamos marcar dois encontros para que alguns artistas participantes (com projetos) interessados pudessem falar sobre seus trabalhos ao público. Esses dois dias já estão marcados, mas ainda vamos contatar todos para ver quem tem interesse para falar no Portifólio. Como o nosso contato com os inscritos foi muito intenso no primeiro semestre, dissemos a eles que preferimos organizar tudo o que falta e só depois, em breve, contatar novamente a todos. Em relação ao calendário, Maralice e Vinícius perguntaram também sobre quando vamos divulgar as datas de todos os eventos (para que eles possam enviar convites por e-mail). Com a ajuda do Maikon Rangel, nós ainda estamos fechando as datas com todos os convidados e por isso acreditamos que essa divulgação só será feita quando nos aproximarmos da abertura da exposição. Por falar em abertura… revelamos também a nossa preocupação na abertura do evento, no dia 5 de outubro, uma vez que haverá muita gente presente e que isso poderá gerar uma desorganização do espaço. Contaremos com o fato de que o educativo também trabalha nas aberturas e pode ajudar para que isso não ocorra, mas que até lá podemos também pensar em outras alternativas de segurança sem que isso impeça ou iniba o contato do público com os projetos. Fizemos ainda uma sugestão de mediação durante as visitas: que o educativo pudesse propor uma reflexão tanto em relação a idéia de “projeto” no sentido mais generalizado, mas também que partisse para esferas mais específicas das propostas de cada projeto, do conteúdo deles e o que eles significam e podem dizer sobre uma obra a um outro; isso aumenta consideravelmente as possibilidades de abordagem do material disponível. Tudo isso que gostaríamos de esclarecer ao educativo também parte de uma vontade nossa que esse braço da instituição participe mais ativamente da proposta e processo curatorial, e que a partir de algumas concepções possam também propor e pedir coisas. Assim, além das nossas sugestões de mediação com o público esperamos que eles também nos tragam idéias e que possamos discutir juntos. Uma outra via dessa aproximação que propusemos foi o espaço deste blog, que abrimos para publicação de posts elaborados pelo educativo também.