Perguntas na entrevista
A entrevista com Nora Ferreira, que havia comentado antes, aconteceu hoje, conforme agendado, pontualmente às 15 horas.
Novamente expliquei o projeto desde o início. A diferença dessa vez foi um certo enfoque, dado pela condução da Nora, à minha formação. Comecei explicando o embasamento conceitual do projeto (ligado à restrição do próprio Festival de que os projetos devam usar um dado da cultura Inglesa como referência), motivo pelo qual falei um pouco do Art & Language e do Joseph Kosuth. Em retrospecto acho que fui um pouco confuso, muitas vezes por relacionar pontos distantes da minha fala causados por desvios de pensamento que achei necessários; de qualquer forma a Nora se disse contente e que o conceito estava bem resolvido.
Ela me indicou algumas referências interessantes, principalmente um texto do Matthew Shirts no qual ele discute a tradução de “artista plástico” por “plastic artist”. Eu não consegui encontrar o original, publicado em fevereiro de 2004, mas encontrei uma menção no site da Associação Profissional dos Tradutores Públicos e Intérpretes Comerciais do Estado de São Paulo, num boletim de 2004. Além desse, Nora ainda comentou sobre um causo ocorrido com colegas dela no qual a tradução de “actually” acabou virando “atualmente” (ao invés de “na realidade” ou algo similar). Finalmente, me colocou a par da existência de um levantamento do próprio British Council que mostra que a maioria dos falantes do inglês não é composta por nativos, ou seja, usam o inglês como segunda língua. Algo que eu já tinha recebido de outras fontes, mas não tão confiáveis como o British Council (eu não consegui encontrar o estudo na internet).
Finalmente ela quis saber exatamente o que estaria no espaço expositivo. Eu já havia lhe dito que as idéias sobre como utilizar esse espaço estavam mudando e dependeriam de algumas definições. Mesmo assim, tentei explicar que, provavelmente, tratará de uma documentação de todo o processo da obra: as intervenções nas unidades, as conversas (como a que estava tendo com ela), as atividades com os alunos, etc. Mas ela, até compreensivelmente, não se satisfez com a inexatidão da palavra “documentação” que, segundo ela, é muito vaga para descrever o conteúdo do espaço expositivo.
Acho que a insatisfação da Nora surgiu também em função da minha dificuldade de explicar o que *é* o trabalho. Acho que em grande parte, e isso eu comentei com a Nora, a maior dificuldade é localizá-lo com exatidão. Os trípticos são o trabalho? As intervenções nas unidades são o trabalho? As atividades com os professores são o trabalho? Talvez tudo seja. A verdade é que eu mesmo não tenho essa preocupação em localizá-lo precisamente, vejo-o muito mais como um corpo amorfo, onde sempre haverá portes mais vagas, em transformação, que se confundem entre si e com outras coisas. E isso faz parte do projeto, que deverá ter indefinições até o fim de todo o processo.
Depois da conversa com a Nora, numa conversa com a Luiza Proença, ela sugeriu a expressão “campo de relações” para abarcar o conceito do que é o trabalho; um campo amplo onde relações entre coisas e pessoas vai se estabelecendo e resultando em alguns produtos. Nesse caso o importante seria o campo em si e não os produtos gerados. Ela ainda me referiu a uma entrevista da artista francesa Sophie Calle na qual ela comenta algo muito curioso sobre as entrevistas que concede. A entrevista completa só pode ser acessada por assinates da Folha ou do UOL, infelizmente, mas reproduzo aqui a parte que toca no assunto da entrevista:
FOLHA – Ouvi dizer que você prepara um projeto usando o que os jornalistas escrevem a seu respeito…
CALLE – As entrevistas sempre dão margem a mal-entendidos. Volta e meia encontro erros ou frases fora de contexto. Às vezes, algo que nunca fiz é atribuído como projeto meu… Então, o que me interessa é um dia fazer tudo o que disseram que eu fiz. Agora, em vez de me irritar quando encontro um erro, esfrego as mãos e digo: “Ah ha!”.