em: 19/02/2009

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Encontro com Hans Ulrich Obrist

Não sabiamos muito bem o que iria resultar do encontro que marcamos com o curador franco-suiço. Pretendíamos conversar muitas coisas, saber detalhes sobre os projetos que ele vem realizando e contar sobre a Temporada de Projetos na Temporada de Projetos. Não tínhamos nenhum convite específico para fazer a ele. Sabíamos que iria ser “a very informal talk”, “briefly”, “even just a “coffee break”, conforme combinamos nos e-mails mediados pela secretária dele, Lorraine Two. Talvez ele faria algum comentário ou sugestão pertinente para o nosso projeto, falasse do formato de exposições e palestras ou do caráter interdisciplinar da proposta, como fez o Boris Groys. Enfim, fomos ao encontro sem um objetivo definido, afinal, considerávamos ele “o cara da conversa“, então, esperávamos que assuntos interessantes fossem surgir de qualquer modo.
Prédio onde se encontra o escritório de Hans Ulrich Obrist em Londres.

Fachada do prédio onde se encontra o escritório de Hans Ulrich Obrist em Londres.

Eram dez e pouco de uma manhã de quinta-feira e estávamos um pouco atrasados (demoramos para encontrar o endereço), mas mesmo assim esperamos mais alguns minutos para Mr. Obrist nos receber no apertado escritório próximo ao Hyde Park, em Londres. Podíamos escutá-lo falando ao telefone em inglês e alemão desde a saleta que estávamos. Estava um cheiro ruim, e uma das duas simpáticas assistentes do HUO presentes na sala pediu desculpas dizendo que o cheiro vinha de um problema no frigobar. A saleta, que mais parecia um pequeno corredor, continha uma estante bagunçada com todos os livros de autoria do HUO e pilhas e pilhas de pastas-arquivo de entrevistas realizadas por ele. Quando nos chamaram para entrar na sala, também pequena e desorganizada, que se encontrava Mr. Obrist, ele continuava no telefone, e mesmo depois, enquanto conversávamos com ele, a cabeça dele parecia “dontstopdontstopdontstopdontstop…“: mandava mensagens pelo celular, riscava um papel, olhava pro lado, olhava para baixo, olhava pra cima, e fazia comentários breves, bastante breves, a respeito do que falávamos. Um deles foi que ele virá para o Brasil em Junho para lançar parte da sua série de livros de entrevistas, e também que ele já havia visitado o país em 2002 para conversar com o Prof. Walter Zanini, junto com o Ivo Mesquita e o Adriano Pedrosa, para uma coletânea de entrevistas só com curadores que gerou o livro recém lançado “A brief history of curating“. Outro comentário foi que pensa as “maratonas” que organizou como se fossem um woodstock de conversas com artistas, no sentido de que uma conversa ocorre atrás de outra por um longo período de tempo. HUO pareceu bem incomodado com as coisas que ele tinha para fazer, e nosso encontro, que durou apenas 15 minutos, acabou parecendo um fracasso. Ao contrário do que imaginávamos, talvez ele esperasse algo mais objetivo. Não conseguimos comentários sobre a nossa curadoria e nem saber mais detalhes das curadorias que ele vem realizando ou realizará.  Todas as respostas que tínhamos pareciam desinteressadas. Ele nos presenteou com o livro “Do it“, versão realizada por estudantes do “VCA Centre for Ideas” (de Melbourne) e do “Central Academy of Fine Arts” (Beijing). Segundo ele, o projeto “Do It”, que nós já conhecíamos, tem similaridades com nosso projeto de curadoria. O “Do it” surgiu em 1993 a partir de uma conversa de Hans Ulrich Obrist com os artistas Christian Boltanski e Bertrand Lavier no Café Select, em Paris, e desde então consiste em um modelo de exposição móvel, aberta, e em curso, em que artistas elaboram instruções/procedimentos de execução de trabalhos que podem ser feitos em diversos locais (funciona como uma partitura musical). Parte da idéia de que de uma mesma instrução, executada por indivíduos diferentes e/ou em locais diferentes,  são criadas interpretações distintas e, consequentemente, obras distintas. Nos despedimos, e ficamos de nos falar na vista de Hans Ulrich ao Brasil, em Junho de 2009. Em seguida fomos ver a exposição “Indian Highway” na “Serpentine Gallery” e após a visita sentamos  na frente da galeria para esperar uma amiga chegar. Abrimos os livros que Hans Ulrich Obrist nos presenteou. Durante nossa leitura, o curador e autor dos livros que estavam nas nossas mãos passou por nós e entrou na galeria.

2 Comentários

  1. Luiza Proença disse:

    Lendo o livro “Seven days in the art world”, eis que me deparo com um comentário feito pela autora sobre uma conversa com o próprio: “… Obrist wrote an e-mail as he spoke; his ability to multitask was impressive. If it were anyone else, you would think he was rude, but he pulled it off with endearing obliviousness.” tá lá: pg. 250 “Seven days in the art world”, de Sarah Thornton.

  2. Luiza Proença disse:

    outra coisa impressionante, é que durante a nossa conversa ele sequer comentou o projeto “Unbuildt Roads”, de sua autoria e sobre projetos de artistas não realizados.

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