Arquivo do mês de março de 2009

Projeto Portfólio: primeiro encontro

O núcleo educativo do Paço das Artes organizou um encontro com os artistas que estão expondo na Temporada de Projetos 2009, Regina Parra, Claudio Matsuno, e Sérgio Bonilha e Luciana Ohira, para um bate-papo com educadores e interessados. O objetivo desse encontro, que faz parte do Projeto Portfólio, era que os artistas falassem sobre suas obras em exposição, mostrassem trabalhos anteriores, obras que considerassem referenciais e relatassem suas trajetórias e expectativas.
Clique na imagem para ver a galeria de fotos realizadas no Projeto Portfolio.

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Às 15:20hs o Paço já estava com bastante gente que iria participar do encontro. Por causa da chuva forte que caiu em São Paulo nesse dia, muitas pessoas ficaram presas no trânsito e o evento acabou sendo atrasado em uma hora. Às 16h00 Regina Parra iniciou a sua apresentação. Começou contando a sua experiencia com teatro, quando aluna do curso de artes cenicas da ECA-USP e integrante do grupo do diretor Antunes Filho, o CPT. Ela comentou que foi no CPT que entrou em contato com muitos daqueles que considera referências suas hoje, como Godard, Tarkovski, Kazuo Ohno, Sokurov e Pina Bausch. Com o Antunes ela contou que aprendeu que “antes do ator, existe o homem”, ou seja, que “como artista não basta fazer uma coisa que não tem a ver com a vida, é preciso estar aberto para outras coisas”, disse. Regina foi morar no Rio de Janeiro, e enquanto trabalhava de garçonete fez cursos na Escola Parque da Lage. Voltando para São Paulo, trancou a faculdade de artes cênicas e ingressou no curso de artes plásticas da FAAP. Seus interesses no inicio eram o desenho, o vídeo e a fotografia. A pintura só lhe veio despertar o interesse a partir da sala do pintor alemão Luc Tuymans, na 26a Bienal de São Paulo, em 2004. Depois dessa influência ela contou como foi o processo da criação da sua primeira pintura, que surgiu a partir de uma fotografia. Segundo ela, a intenção foi partir da fotografia para a pintura para poder realçar características presentes na primeira através da segunda; mais precisamente, torná-la mais dramática. O resultado desse busca acabou sendo uma série de 12 pinturas realizadas a partir de fotografias de pessoas em frente à Igreja de Aparecida do Norte, com o qual ela ganhou o primeiro prêmio da 38a Anual de Artes da FAAP. Segundo a Regina, foi a partir desse prêmio que surgiu um convite para ser representada em uma galeria, o que ela considera a sua entrada no “circuito da arte”. Ela prosseguiu contando mais sobre as séries de pinturas que se seguiram, como “Vertigem”, na qual são pintadas pessoas em momentos de horror, mas sem que ele fique explícito, sempre pinturas advindas de fotos familiares, ou com uma aparência familiar, mas ao mesmo tempo ambígua. A série seguinte “Devir” trata de momentos em que algo conhecido vai acontecer, mas que não contém a informação do que  vai acontecer; segundo a Regina a busca seria então por esclarecer se a imagem já contém a tensão do fato que acontecerá ou se são os espectadores que imprimem essa tensão. A série seguinte, chamada “Controle”, utiliza imagens captadas por câmeras de vigilância. Novamente, segundo a Regina, a intenção era explorar a efemeridade das imagens descartáveis captadas por essas câmeras no processo de pintura à óleo. Além disso, existia ainda um interesse pelas imagens midiáticas (de uma grande coleção de recortes de jornais que ela mantém), já que as figuras da série “Controle” eram pessoas como a Princisa Diana e outras, em momentos antes de uma grande tragédia. Essa recorrência da tragédia a Regina atribuiu à sua formação no CPT e o interesse e estudo que lá existia pelas tragédias gregas. Finalmente, ela falou sobre “Mise-en-scène”, série de pinturas expostas no Paço. O processo se dá novamente pela utilização de imagens de câmeras de segurança, mas, dessa vez, são imagens capturadas por uma assistente quando a própria Regina entra em cena. A busca seria então por um momento de dúvida entre o que é encenado e o que é real. Ela terminou referenciando Arlindo Machado, que, segundo ela, diz que as imagens de câmeras de segurança criam automaticamente suspeitos e culpados, em imagens que estão em estado constante de alerta, onde, a todo momento, algo pode acontecer. Depois da fala da Regina, foi a vez de Claudio Matsuno mostrar trabalhos antigos. Ele começou com trabalhos de 1993, época em que estava na faculdade, que segundo ele eram trabalhos muito academicos que seguiam uma tradição da arte (exercicios de luz e sombra, cor, modelo vivo, releituras de obras, etc). “Durante a faculdade nunca tive experiencias de bienal”, afirmou. Segundo o artista, ele não tinha a intenção de ser artista, pensava em trabalhar com arte educação. Foi a partir de 1994, quando ele começou a frequentar mais o circuito artístico contemporaneo e ter contato com grupos como a Casa 7, que se interessou mais em atuar como artista. Com influencia da arte alemã tais grupos faziam uma pintura que era, segundo Matsuno, “meio suja”. Outro artista referencia para a formação de Matsuno foi o pintor espanhol Antoni Tapies que não tinha preocupação de esconder os erros. O erro, o improviso e a “tosquisse” se tornaram objetivos dos trabalhos de Matsuno. Da pintura, o artista tentou recuperar o habito do desenho: “e aí deu certo”. Mas afirmou a dificuldade e o seu desinteresse em decidir por um “estilo”, por uma linguagem específica. Outra comentário que o artista fez, foi em relação à sua prática de ateliê: “Muita gente acha que ateliê é coisa ultrapassada, mas eu não vejo nenhum problema.” Em 2003 Matsuno passou a ser representado pela galeria Leo Bahia, em Belo Horizonte. Realizou exposições no Centro Cultural São Paulo (2006), na galeria ACBEU, em Salvador 2007), entre outras. O artista disse que suas obras atuais não são trabalhos finais, e sim processos, em que “força” um diálogo de um trabalho para outro. Além disso, disse que nelas não existem questões filosóficas, um motivo pelo qual as faz, e sim questões plásticas, baseadas na busca pelo erro: “acerto quando eu erro”. E em relação à linguagem do desenho também afirmou: “não quero ser muito inovador. Não estou trabalhando com a novidade.” Já no final da sua apresentação, Claudio Matsuno falou sobre projeto e elaboração de seu trabalho: “não é o que você coloca no portfólio que é o que vai aparecer no trabalho – o espaço influencia muito.” Uma professora perguntou ao artista como ele, como professor de artes, trabalhava a questão do erro em sala de aula. Matsuno sugeriu ver o erro como processo do desenho. Já estava tarde e alguns grupos de pessoas que estavam no encontro tiveram que ir embora. Na fala do Sérgio Bonilha e da Luciana Ohira formou-se uma platéia menor que pode ficar mais próxima aos artistas e participar de uma conversa mais informal. A dupla iniciou contando experiencias anteriores ao ingresso no curso de Bacharelado em Multimídia e Intermídia da Faculdade de Artes Plásticas da ECA-USP: os dois falaram da importância da visita à museus de arte desde pequenos, a Luciana exibiu imagens que fez em laboratório fotográfico, e o Sérgio falou do seu contato com o grafitte, entre os seus 14 e 18 anos. Os dois se conheceram na faculdade e começaram a elaborar trabalhos juntos a partir de 2004, muitos deles surgiram desde de provocações dos editais. É o caso do 13° Salão Unama de Pequenos formatos, em que os artistas, instigados em saber o porquê e o como fazer um trabalho de pequena escala, criaram um museu em miniatura. Ainda sobre a faculdade, Bonilha afirmou ter obtido um suporte técnico-formal, “mas era um universo muito fechado, ficou a lacuna do homem”, completou. Foi somente por meio da experiência com a área da educação que teve contato com um questionamento mais profundo sobre o mundo e começou a ler autores como Foucault. Das referências artísticas, a dupla citou os artistas Guto Lacaz, que, segundo eles, tem um caráter generoso, humorístico e humano nos trabalhos, e os trabalhos de Pedro Paiva e João Maria Gusmão. Os dois comentaram um trabalho com lâmpadas queimadas que seriam transportadas por pelo menos 1000 km que já foi enviado para mais de 10 editais e nunca foi realizado. A partir desse trabalho falaram que existe uma plasticidade da arte póvera nos trabalhos que realizam, no interesse pelo uso materiais ordinários como as lâmpadas queimadas. Sobre projetos não realizados, Luciana e Sérgio citaram outro caso em que o projeto foi aprovado por um salão, mas os responsáveis pela mostra não conseguiram se organizar para que o projeto fosse executado. Sobre a elaboração de Projetos, os artistas costumavam a escrever textos de apresentação mais densos, com referências à história da arte, mais academicistas, com nota de rodapé, introdução e conclusão. “Usávamos palavras difíceis como ‘imanência’, afirmaram. Depois que eles conheceram o Lourival Batista, artista que entrou no Programa Rumos Itaú Cultural na edição de 2005-2006 e que usava uma linguagem muito mais coloquial para explicar seu trabalho, Luciana e Sérgio buscaram tornar os textos de seus projetos mais acessíveis e simpáticos. Para um trabalho enviado ao 12o Salão dos Novos de Joinville, em 2005, os artistas abriram um edital divulgado por um periódico local para recrutar obras em miniaturas para um pequeno museu de 1:100. Essa é uma idéia de um museu transportável. A obra ganhou o prêmio aquisitivo do Salão de Joinville, porém a aquisição regressou a expansão infinita originalmente planejada para o projeto. Segundo os artistas, os trabalhos que eles vêm desenvolvendo têm uma características de mostrar como funcionam, elaboram máquinas transparentes, seguindo a idéia da filosofia da caixa preta do Vilem Flusser. Luciana e Sérgio demostram uma constante preocupação com a relação com o público. Para uma exposição no Centro Universitário Maria Antônia, realizada pelo Programa Nascente (da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da USP), na ausência de um serviço educativo, os artistas distribuíram ao público cartões com o endereço de um website criado por eles, contendo informações sobre o trabalho exposto. Num outro contexto, no Centro Cultural São Paulo,  os artistas resolveram ampliar a proposta da exposição apresentando os desenhos prévios também utilizando os cartões e  o website. A conversa com o Sérgio e a Luciana só terminou porque o Paço das Artes tinha que fechar. Já havia passado das 19hs e o evento tinha durado aproximadamente 4 horas!
em: 26/03/2009

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encontro

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Encontro com Cayo Honorato

O Cayo Honorato, artista e educador, propôs que conversássemos com ele sobre a Temporada de Projetos na Temporada de Projetos” a partir de uma idéia de “invenção artística”. E sugeriu duas entradas:
1. a de que o projeto possa efetuar, se já não o faz conceitualmente, uma redistribuição de poderes em relação a um comum, nos termos do Rancière [Jacques Rancière, filósofo francês], entre selecionados e não-selecionados, curadores e artistas, etc. 2. a de que ele possa articular de algum modo a condição conceitual e a processual das práticas artísticas contemporâneas, na discussão entre projeto e resultado, sobretudo, levando-se em conta a lógica dominante do formato projeto, a informar um tipo particular de produção, talvez em detrimento de outros.
O Cayo achou a nossa proposta bastante relevante e quis saber como ela surgiu. Falamos da ausência de retorno que tínhamos sobre os projetos que elaboramos bem como de uma frustração de quando eles são selecionados. Além disso, explicamos o porquê de termos optado por um projeto de curadoria, apesar de sempre existir uma dúvida de uma “categoria” das coisas que fazemos. O Cayo fez um comentário pertinente a esse respeito, afirmando que são práticas que ainda não têm um lugar específico, e que surgem mas não cabem nesses modelos. O Cayo mesmo lembrou de uma afirmação feita pelo Boris Groys no livro “Art Power“: o novo aparece no mesmo.
Capa do livro Art Power de Boris Groys

Capa do livro "Art Power", de Boris Groys

Falamos também sobre alguns desdobramentos e reações dos artistas e curadores convidados para participar. Sobre as circunstâncias atuais do “pensamento projetual” em geral, o Cayo se referiu a uma “neurose” que se expressa num frequente desacordo entre intenção e realização, vontade e ato, sentimento e acontecimento. Sobre isso, lembramos da conversa que tivemos com o Groys e de uma noção de dissincronia, entre projeto e realização, na qual ele se refere num texto que nos enviou ainda não publicado. Segundo a fala do Cayo, “pro-jetar significa ‘lançar adiante’, o que implica uma decisão inicial e uma indeterminação final”, porém “por vezes nos esquecemos disso, acreditando que o sentido está no fim.” E apontou que “disso decorrem tantos perigos objetivos, mas para ficarmos com uma dimensão apenas do equívoco: segundo Hannah Arendt, ‘nem a liberdade nem qualquer outro significado podem ser jamais o produto de uma atividade humana no sentido de que a mesa é, evidentemente, o produto final da atividade do carpinteiro’ (in: entre o passado e o futuro, p. 113). Enfim, é nesse intervalo deslizante que se move a consecução de um projeto – o que levanta questões políticas e históricas, além de estéticas.” Durante a conversa, outra questão foi debatida a partir da provocação do Cayo: “o modelo de editais e seleção de projetos muda a arte?”. Como essa lógica determina um tipo de arte, privilegiando um tipo de produção? Acreditamos que a pergunta do Cayo é válida e não tem ainda uma resposta satisfatória, mas que pode ser explorarada desde já e também nos encontros que planejamos para a Temporada de Projetos na Temporada de Projetos. De fato existem tipos de produção que se adequam ao formato de projeto facilmente, como os trabalhos de fotografia em que o que geralmente varia entre projeto e obra é o tamanho das fotos. Ou seja, o trabalho pode ser visto claramente no projeto. Comentamos também a exigência dos editais por um formato específico de projeto que de certo modo pode definir algumas características do trabalho. Por exemplo, muitos editais pedem a classificação da obra (pintura, escultura, gravura, fotografia, novas mídias, etc.) ou um dado número de fotos de trabalhos diferentes, coisas que nem sempre todo artista tem claro ou que todo trabalho pode ser adequado. Além disso, os formatos nos quais os projetos são aceitos raramente se estendem para além do texto impresso, sendo que, não poucas vezes, há até limitações no tamanho e tipo do papel a ser usado! Lembramos que falta uma noção mais clara do que é um projeto, qual deve ser o seu escopo, seu objetivo como projeto. Particularmente consideramos que o projeto pode ser encarado como uma proposta inicial, que não necessariamente indica o que vai ser ser feito passo-a-passo. Muitas vezes existe muito tempo entre o momento da elaboração do projeto e a realização dele; ou seja, há muito tempo para que as coisas mudem (bastante). Mas acreditamos que isso não passa de uma consideração particular e que certamente pode ser abordada de muitas outras formas, não só por artistas ou curadores, mas, mais importante, por membros de júris que analisam projetos; que podem, por exemplo, esperar que o projeto seja uma descrição absolutamente fiel do que vai ser realizado quando aprovado (como é esperado em diversas outras áreas de produção humana que envolvem prestação de serviços para um cliente, como, por exemplo, costuma ocorrer na arquitetura). Por fim, em decorrência de uma pensamento que surgiu após o encontro com Milton Sogabe, discutimos a idéia do “novo”, do ineditismo, ou da originalidade, que são, mais do que qualidades, critérios cobrados por esse modelo. Assim, por esse modelo, a arte estaria então atrelada à idéia do novo. As instituições, para sua promoção, querem algo novo bem como também esperam um determinado tipo de produção. E chegamos a um mar sem fim sobre essa idéia. Lembramos do trabalho da Sturtevant, no qual o “novo” está na cópia do “velho”, ou seja, um novo que não é novo; o Cayo lembrou da Sherrie Levine e o seu “After Waker Evans“. Ambas são um exemplo de que o novo aparece no mesmo… Indiferentemente de como o novo surge, parece que ele é mesmo um critério para que haja interesse sobre um trabalho, o que faz da originalidade uma característica que permanece na arte.
em: 25/03/2009

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reunião

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Reunião com Álvaro Razuk

Tivemos um brevíssimo encontro com o Álvaro Razuk, arquiteto Paço das Artes, pois a reunião, que ocorreu no Paço, começou com atraso e tínhamos outros compromissos. O Álvaro, que ainda não conhecia a proposta, foi bastante objetivo e prático em lidar com a questão da expografia da Temporada de Projetos na Temporada de Projetos. Embora não tenha se envolvido muito com a proposta do modo que gostaríamos pela rapidez do encontro, a partir de uma idealização nossa de que o espaço da exposição fosse dinâmico e expressasse as atividades que ocorreriam nela, ele fez sugestões bastante interessantes, como o uso de painéis, paredes ou plataformas móveis. Além disso, perguntou sobre outras instalações que ainda não tínhamos pensado como a iluminação e a disposição de computadores. Outras questões que o Álvaro fez foi se gostaríamos que os projetos estivessem dispostos de diferentes maneiras (alguns guardados e outros em primeiro plano) e se o espaço funcionaria como uma biblioteca, em que os usuários retiram os livros das estantes e não os devolvem, ou se o público definiria o lugar dos projetos no espaço.
Exposição Rochelle Costi no MIS

O Álvaro sugeriu que usássemos uma iluminação similar à usada na exposição de Rochelle Costi no MIS em 2008.

Dentro das possibilidades apontadas pelo Álvaro, ficou claro que a nossa opção deveria se dar na criação de um espaço funcional para leitura dos projetos e para a realização de encontros, e que deveríamos ter cautela para evitar hierarquias entre os projetos. Mesmo assim, ao fim da reunião, não chegamos a definir algo muito concreto que o Álvaro pudesse desenvolver.

em: 25/03/2009

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encontro

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Encontro com o Núcleo Educativo do Paço

Marcamos uma reunião com o educativo do Paço das Artes para pensarmos uma ação de mediação para a exposição Temporada de Projetos na Temporada de Projetos. Participaram dessa reunião a Nathalia Meyer da equipe de produção, e a Christiana Moraes e a Maralice Camillo do serviço educativo. Começamos dizendo que seria importante os educadores orientarem o manuseio dos projetos durante a exposição e, nessa função, encontrar uma possível porta de entrada para um diálogo com o público visitante. Além disso, afirmamos a possibilidade do educativo ter um espaço no site projetosnatemporada.org. Comentamos também que seria interessante a elaboração de um material educativo para ser distribuído na exposição. A Christiana perguntou se nós já havíamos pensado no texto crítico que estaria tanto no folder como no texto do espaço expositivo, e afirmou a importância que eles tem na “questão ideológica” da exposição. Ela continuou nos contando sobre o “Projeto Portifólio”, iniciativa do serviço educativo do Paço das Artes, que visa desmistificar o trabalho do artista, convidando os artistas que estão expondo para mostrarem trabalhos anteriores e falarem sobre suas trajetórias. De fato existem proximidades com a Temporada de Projetos na Temporada de Projetos. Discutimos algumas estratégias para lidar com o público espontâneo, as escolas que visitam o Paço em grupos de aproximadamente 20 estudantes, e a comunidade da USP. Temos nos preocupado muito em nos aproximar desta última, pensando em estabelecer intercâmbios entre diversas disciplinas na reflexão sobre a elaboração de projetos. A reunião levantou muitas questões e deixou claro que muito ainda deverá ser pensado. Assim que outras atividades estiverem melhor definidas, como palestras e worshops, bem como a expografia, ficará mais fácil também de lidar com tais questões.
em: 24/03/2009

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encontro

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Encontro com Tadeu Chiarelli

Na recém-improvisada área de convivência do Departamento de Artes Plásticas da USP, conversamos sobre curadoria e processos curatoriais ligados a projetos artísticos com o intuito de instigar o crítico, curador, historiador e professor Tadeu Chiarelli à um convite para que participasse da Temporada de Projetos na Temporada de Projetos. Um dos motivos para tê-lo chamado é a extensa e crescente lista de participações em júris de editais em todo o país. Mas, claro, o que interessa muito é que, além disso, ele também exerce a posição de curador e crítico de arte, o que permite uma abordagem em contraposição por experiência própria de cada um desses papéis. A nossa conversa começou com uma explicação básica sobre o projeto, onde contamos as idéias principais, o funcionamento da autorização, as reações dos artistas convidados e como incluí-las na exposição. Falamos um pouco também sobre como vemos a ligação do Paço com a USP e algumas formas que pensamos de convidar docentes de outras áreas para participarem de atividades ligadas à exposição para abranger interesses de outras unidades da USP que sejam ligadas ao tema dos projetos, quase que numa tentativa de conectar o Paço com a USP por meio de uma abordagem interdisciplinar. Ligado ao tema dos editais, Tadeu contou um pouco sobre algumas características que ele destaca de suas experiências, principalmente como vê a sua bagagem como crítico e curador influenciar na prática de seleção em júris e como isso acaba ficando claro no momento em que essa seleção é realizada em conjunto com outros profissionais. Além disso, contou como, em alguns salões, há ainda uma incompreensão sobre qual é o papel do curador e, não raro, está entre suas incumbências a montagem da exposição. Numa segunda colocação, Tadeu se disse bastante surpreso com o crescente interesse em curadoria nos últimos anos. Interesse esse que o alcança diretamente não só por ter vasta carreira em curadoria, mas também pela posição que ocupa dentro do Departamento de Artes Plásticas, contexto universitário onde, segundo ele, houve recentemente uma intensificação sobre o  debate sobre a “profissionalização” dessa posição. Para ele, um grande problema relacionado a esse debate é uma relativa falta de tradição da curadoria no país, ou seja, a inexistência de uma história dessa prática local ligada também ao fato do próprio conceito de curadoria ter poucas oportunidades para ser refletido sobre ou colocado em debate. Falta essa que acaba gerando a necessidade de uma base sobre a qual novas práticas curatoriais possam ser avaliadas, sejam as mais experimentais ou as mais tradicionais, seja positiva ou negativamente; enfim, que permita um posicionamento mais claro sobre a curadoria. Mais ainda, Tadeu disse não acreditar numa prática curatorial que seja uma prática profissional autônoma, ou seja, que não seja pautada em uma pesquisa — ou desenvolvimento de uma pesquisa — de crítica e de história da arte. Essa crença, ainda segundo ele mesmo, pode advir de sua formação ou mesmo de uma diferença geracional, mas que poderia ser esclarecida se as posições relativas ao tema se tornassem públicas e abertas.
Trabalho de Regina Silveira para o Projeto Parede do MAM

Trabalho de Regina Silveira para o Projeto Parede do MAM

Ainda nesse contexto, Tadeu explicou um pouco sobre o seu próprio processo como curador, que ele próprio chamou de uma abordagem muito particular, na qual ele sempre parte de um interesse por uma obra e não por um artista. O que, para ele, significa que a relação estabelecida é entre o curador e a obra e não entre o curador e o artista nem mesmo entre o curador e um projeto, que ele teria que acompanhar, já que ele prefere encarar a curadoria como um produto final sobre o qual ele possui controle e não como um processo. Mas foi aí que, lembrando de algumas práticas anteriores, ele se recordou da experiência que teve com o Projeto Parede do MAM, no qual era inevitável que buscasse um artista para desenvolver um projeto, já que há uma limitação muito concreta, clara e precisa: a parede. De qualquer forma, essa atuação distinta daquela que vinha relatando, segundo ele a única série de projetos que ele desenvolveu dessa forma com artistas, levou a uma breve reavaliação da maneira como Tadeu encara a sua prática, ainda de modo reticente, mas que, de qualquer forma, deixou margem para alguns pontos que podem ser abordados na sua palestra dentro da Temporada de Projetos na Temporada de Projetos.

Encontro com Milton Sogabe

Nas novas intalações do Instituto de Artes da UNESP, na Barra Funda, em São Paulo, conversamos com Milton Sogabe sobre sua participação na Temporada de Projetos na Temporada de Projetos. Na verdade, a reunião estava marcada para ocorrer uma semana antes, mas nos desencontramos do Milton no meio da mudança da UNESP para a Barra Funda e tivemos remarcar. Milton, além de professor da UNESP, onde ministra a disciplina de processos de criação e projetos interdisciplinares, é um dos membros do grupo SciArts. Foi por meio dessa disciplina que surgiu a idéia de convidá-lo para ministrar uma das palestras do projeto. Começamos o encontro explicando ao Milton, que já conhecia o projeto, alguns detalhes que ele ainda não estava a par e também como gostaríamos que fosse a participação dele em uma das palestras. A intenção é que essa seja a palestra mais pragmática de toda a exposição, ainda que com uma apresentação investigativa sobre salões, editais, e linhas de fomento no Brasil. Ele próprio sugeriu fazer uma análise crítica desse quadro. O Milton levantou alguns pontos interessantes para pensarmos sobre o projeto, sendo o primeiro o fato de se tratar de uma curadoria proposta por artistas. Como no projeto inicial enviado ao Paço, explicamos um pouco sobre como nos víamos nesse papel um tanto complicado e de difícil definição, mas a essa posição, que ele chamou de zona cinza entre artista e curador, Milton sugeriu que não deveria uma preocupação propriamente, já que correríamos o risco de se fechar em uma mera discussão terminológica que de fato não nos interessa. O segundo momento importante foi a avaliação do projeto como algo “novo” que, por isso, interessou a ele. Claro que se tratou de um comentário “en passant”, e com um intuito elogioso, mas, devido ao constante pensamento auto-crítico (e até à discussão iniciada no primeiro contato com os inscritos) ela voltaria a tona mais adiante pela via de uma re-avaliação desse critério (até mesmo no contexto do(s) edital(is) onde esse é um pre-requisito).