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em: 17/08/2009

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Encontro com Luisa Duarte

Nos encontramos hoje com Luisa Duarte para definirmos melhor como será a participação dela na Temporada de Projetos na Temporada de Projeots. Ela é uma das convidadas a ministrar um workshop dentro do ciclo de workshops que lidam com análise e elaboração de projetos.

Contamos um pouco como será a exposição e também a natureza do nosso convite. Em especial, comentamos sobre uma espécie de dificuldade que tem nos surpreendido que é a reação à liberdade que oferecemos aos convidados para ministrar palestras e workshops. Temos deixado claro para todos os convidados a liberdade para desenvolverem as atividades da maneira que mais lhes convenha (ou seja, que tenha mais ressonância com seus interesses, suas pesquisas, seus modos de atuar, etc), temos em alguma medida até incentivando experimentações dentro dos formatos mais convencionais (de palestras e workshops). Imaginávamos que essa liberdade aumentaria o interesse no convidado em desenvolver a atividade, no entanto, a reação surpreendente é que ela acaba gerando uma reação reticente, de afastamento ou desconforto. Não temos como saber exatamente os motivos que levam a essa reação, e uma elaboração maior mereceriam um outro post, mas talvez podem passar por: o fato dessa liberdade pressupor um envolvimento e responsabilidades maiores, uma sensação dos convidados de falta de definição de qual é exatamente o nosso convite, medo de experimentar outros formatos (principalmente por eles poderem não funcionar), desinteresse em envolver-se, etc.

Ao contrário dessa reação, Luisa Duarte foi muito prática e já sugeriu, pelo menos em esboço, como lhe interessaria fazer o workshop. Já tendo participado de situações semelhantes de análise de projetos, ela comentou sobre a dificuldade de estabelecer parâmetros para falar sobre os projetos nessas situações. Além disso, apontou a situação comum na qual quem ministra o workshop se depara pela primeira vez com o projeto minutos antes de que já se espere dele uma reação crítica e analítica muito mais profunda do que é possível fazer nesse tempo tão curto. Isso acaba gerando frustração tanto em quem ministra o workshop quanto em quem participa, pois a expectativa de um determinado retorno nem sempre é correspondida.

Para lidar com essas dificuldades, ela sugeriu que o workshop contasse com artistas convidados por ela para apresentarem projetos (ou mesmo que ela apresentasse projetos deles). O primeiro benefício seria, levando em consideração que ela convidaria artistas/projetos com os quais tem mais familiaridade e vem acompanhando a trajetória, que o tempo curto de reação a uma proposta seria minimizado. Além disso, a apresentação destes projetos facilitaria o estabelecimento de parâmetros a partir do qual seria possível discutir com os projetos dos outros participantes do workshop.

Ela também deu importância que as atividades que estamos propondo sejam documentadas, e no caso dos workshops a melhor maneira de registrá-los seria por meio de um relato, já que um registro em vídeo ou áudio de um evento como esse (mais informal do que uma palestra) pode torná-lo inacessível a quem não estava presente.

em: 22/07/2009

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Encontro com Fernando Oliva

Fomos ao Centro Cultural São Paulo para conversar com um dos convidados para ministrar uma das oficina de elaboração de projetos, Fernando Oliva. Já havíamos conversado rapidamente antes sobre algumas possibilidades de formatos para a oficina, mas Oliva achou melhor pensar mais calmamente para poder definir como gostaria de fazer a sua (vale lembrar que Oliva trabalhava no Paço até o início deste ano). Por isso, dessa vez quisemos esclarecer e definir alguns pontos. Qual o tipo de atividade que seria realizada? Apesar de ser uma oficina voltada para a elaboração de projetos, existem muitas possibilidades de abordagem, tanto práticas quanto teóricas: análise de projetos prontos, desenvolvimentos de projetos específicos, exploração e discussão de estratégias de apresentação, etc. A partir de uma experiência recente no Centro Cultural da Espanha, sugerimos ao Oliva a realização de uma oficina bastante prática, com o objetivo claro de que cada participante elabore um projeto. Como ela se desenvolverá? Segundo Oliva, o tempo que reservamos para a oficina (que ocorreria em apenas um encontro de aproximadamente três horas) é insuficiente para que um trabalho desse tipo seja realizado. Ele sugeriu então que acontecesse um encontro inicial com os participantes no qual seria iniciada a atividade a ser desenvolvida para a oficina e também indicada bibliografia (a possibilidade desse encontro ocorrer no Paço das Artes em Setembro, um mês antes da abertura da exposição, já foi avaliada e deferida). A partir desse encontro ocorreria um acompanhamento (via internet, por email) que culminaria em um encontro presencial (já após o início da exposição, na data inicialmente reservada para a oficina) no qual os projetos seriam apresentados e discutidos coletivamente. Qual o destino do projeto? Também a partir da experiência no Centro Cultural Espanha, levantamos que é muito mais interessante (e fácil) elaborar um projeto para um destino específico (seja ele um edital, um espaço, situação, etc) do que um projeto ‘hipotético’, que não tenha um fim claro. Depois de considerarmos possíveis implicações, nos pareceu que o próprio “Edital Temporada de Projetos” do Paço poderia ser o destino, já que é a atividade ocorre ali dentro e seu resultado seria de interesse para a instituição. Qual o ‘público-alvo’ da oficina? Artistas. Já que se trata de uma oficina de elaboração de projetos, existiria a possibilidade de abrir a chamada para curadores também, mas achamos mais produtivo manter um foco mais estreito e trabalhar somente em projetos de artistas. Como fazer a seleção dos participantes? Desde o primeiro momento consideramos um número bastante reduzido de participantes, para que a oficina seja mais bem sucedida. O procedimento ideal seria então divulgá-la abertamente assim que possível para que possamos receber (via formulário na internet) cartas de intenção, a partir das quais Oliva, com nossa ajuda, selecionará os participantes. Em breve disponibilizaremos mais informações sobre a oficina.

Seminários de Curadoria: Lisette Lagnado e Ricardo Basbaum

A curadora e professora Dra. Lisette Lagnado organiza semestralmente na Faculdade Santa Marcelina, em São Paulo, um seminário sobre curadoria, no qual já passaram Paulo Herkenhoff e Adriano Pedrosa. Na sua terceira edição o convidado foi o artista-etc Ricardo Basbaum, dando ênfase em exposições organizadas por artistas que assumem um papel comumente reservado ao crítico. Uma das características mais interessantes dos seminários organizados pela Lisette Lagnado é o formato de como esses encontros são realizados. Esse é inclusive um dos motivos pelo qual nos interessava a participação dela na Temporada de Projetos na Temporada de Projetos (infelizmente ela não poderá participar por conta de um compromisso no fim do segundo semestre). O seminário está estruturado em duas partes. Na primeira, Lagnado entrevista o convidado. Essa entrevista é resultado de 2 ou 3 meses de conversas entre os dois, bem ensaiada, mas durante a apresentação permite naturalidade e espontaneidade. Após um intervalo, a segunda parte é aberta para perguntas elaboradas pelo público, sendo que as perguntas são enviadas à mesa na forma escrita (em pequenos papéis) após o final da primeira parte e antes do início da segunda (o que permite à Lisette organizar/agrupar as perguntas). Toda a conversa é transcrita e divulgada na edição seguinte da revista Marcelina. Ocorrendo 2 vezes ao ano, há bastante preparo para cada encontro, o que fortalece a sua efetivação. O seminário com Basbaum iniciou às 17hs e terminou às 21hs, do dia 16 de junho. Lagnado começou afirmando que “todo curador deve ser um crítico”, deve ter “responsabilidade intelectual fora dos museus”, e não ser um “simples produtor “. E lançou a pergunta: “como pertencer ao circuito [como produtor de "objetos" artísticos] e criticar ao mesmo tempo?”. Basbaum falou que o problema de produzir uma obra, no seu caso se inicia com a questão do discurso crítico, mais do que a questão da curadoria, como em reação à um vazio do circuito por meio do esforço de produzir comentários críticos que de outra maneira não existiriam. Isso, para Basbaum, instrumentaliza a posição do artista, no sentido de sentar numa mesa de negociações não apenas com a obra mas também em relação à outros elementos. Só depois isso se agrega à perspectiva curatorial, no sentido de organizar situações, eventos, publicações.
Curating Comics

Basbaum explicou o termo do artista-etc: o artista como curador, como crítico, e como agenciador. Para ele, estar dentro e estar fora é assumir que não existe distanciamento crítico seguro, e que sempre há uma demarcação de posições, e que nada mais é próximo da atividade do artista do que demarcar essa posição enquanto um produtor ligado a uma certa poética, à um jogo crítico conceitual histórico, e carregá-las também seja para qualquer atividade que for feita: para um gesto curatorial, critico, etc, e a partir daí criar um campo de ação. Basbaum, respondendo ainda a primeira provocação, falou que não existe mais somente o contato sensorial com a obra, no sentido de uma relação imediata, que a pureza da espontaneidade imediata não existe mais, e que há mediação o tempo todo. E afirmou que é na disputa entre mediação e imediação que reside a tensão entre a curadoria e a produção da obra, e mesmo o estar dentro e estar fora. Lagnado citou o texto do Boris Groys em que ele afirma que “o curador seria um artista secularizado”, ateu, e que ela se interessou por essa possibilidade de entender uma espécie de secularização de um lugar ou posição. Ligada a primeira pergunta, Lagnado colocou o fato de Basbaum ser um não-pintor da geração de 80, geralmente referenciada como a geração da pintura. Essa colocação voltou várias vezes ao longo do seminário, inclusive nas perguntas. Basbaum retrucou afirmando que a idéia de “geração é muito vaga” e que a geração de 80 é mais um fenômeno cultural do que artístico, e que ele se posicionou criticamente  à essa idéia. Aqui, é interessante comentar que o problema de rotular uma geração, como o caso da geração 80, continua existindo hoje: a geração de 80 ainda é a geração da pintura e as gerações seguintes também vão recebendo rótulos. Isso se tornou mais claro quando, após o seminário, ocorreu a abertura do prêmio “Energias da Arte” , no Instituto Tomie Ohtake, que consistia numa exposição coletiva de trabalhos de jovens artistas, selecionados por meio de uma convocação pública. De quase 400 projetos, cerca de 21 foram selecionados para a exposição e 3 receberam um prêmio na noite da abertura. A grande parte das obras expostas respeitavam em grande medida os limites de uma tradicional mostra de Belas Artes, isto é, eram principalmente trabalhos bidimensionais, como fotografias, pinturas e colagens. Ou seja, uma produção contemporânea significativa, que não se dá nos moldes e limites da sala de exposição, fica fora da definição dessa geração, de nascidos após 1981, focalizada pelo programa do Tomie Ohtake. Entre outros assuntos colocados no seminário estava a definição do que é “arte conceitual” e “conceitualismo”, a separação da arte conceitual histórica (que, segundo Basbaum, ainda é entendida muito em relação a um contexto anglo-saxão histórico muito específico) e práticas que existem hoje e recebem esses rótulos, e que o fato das duas últimas bienais foram chamadas de conceituais. Durante a pergunta, a Lagnado explicou: “Quando afirmo que o curador é antes de mais nada um sujeito dotado de responsabilidade intelectual, eu quero discutir é a cilada do sistema neo-liberal que transformou o valor simbólico do curador independente numa expressão semântica absolutamente vil. Ou seja, o  que a gente pensava que era o curador independente antes é um serviço terceirizado”. E explicou a origem da expressão “independent curator”, cunhada por Harald Szeemann, que inventou para si uma profissão e passou a adaptar as estruturas das instituições às exigências das práticas artísticas, investindo em “intensas intenções” no lugar de “masterpieces”. Ou seja, o curador independente não traria as grandes obras, mas sim estaria comprometido com suas “intensas intenções”. Porém, segundo Lagnado, o curador independente não é nada disso, e sim tem se tornado dependente da situação econômica da instituição a qual trabalha e isso também acarreta numa submissão moral. Referenciando o debate “The next documenta should be curated by an artist?” (2003)  lançado por Jens Hoffmann , Lagnado enfaticamente perguntou a Basbaum: você gostaria de curar a 29a Bienal de São Paulo? Após um “não”, Basbaum afirmou que acha interessante a provocação que Hoffmann faz para que os artistas produzam textos, como no “The next Documenta…”. Porém, “projetos curatoriais”, afirmou, “eu realizei muito poucos”. E citou o caso do Panorama (2001) e experiências na Eslovênia e em Portugal. “Tenho resistência a eventos muito grandes como a Bienal de São Paulo, onde há um formato pouco moldável. Me posiciono mais junto de pequenos projetos, muito específicos, que me intessariam praticar esse papel”. Por outro lado, Basbaum não excluiu a possibilidade de uma eventual colaboração, de uma curadoria que hipoteticamente pudesse ocorrer com uma equipe, mas, devido exatamente ao grau de especulação é muito difícil afirmar qualquer comprometimento hipotético. Basbaum apresentou uma série de trabalhos chamada “Re-projetando”, que para ele é uma série que se aproxima mais da prática curatorial. Ele projeta o desenho/forma NBP, criada por ele e que se repete nos seus trabalhos, em um mapa e descobre nove pontos em que ele passa a realizar ações/eventos diversas, artísticos ou não, por meio de uma prática coletiva e transparecendo as relações institucionais.
nbp2

A forma NBP usada por Basbaum em "Re-projetando"

Em seguida, Basbaum apresentou um outro projeto em que foi co-curador chamado “On difference #2“, em que aconteceu em Stuttgart na Alemanha, onde ele propôs trazer quatro situações que envolvessem os artistas desempenhando papéis como produção editorial, mobilização política, construção de eventos, e pesquisa. A presença dele como curador estava na organização dos projetos mas também na “inserção plástica” no espaço reservado e desenhado para a exposição, uma experiência que Basbaum denominou de ”escultura curatorial”. Uma das últimas perguntas que Lagnado fez para Basbaum continuou o debate a respeito das redefinições das mostras, como a Bienal e o Panorama. Segundo Lagnado, as identidades das mostras tem mudado, “a não ser o Rumos que continua sendo um programa de mapeamento que procura dar visibilidade a artistas que não tem visibilidade, mesmo que às vezes são reencontrados certos nomes que já estão inseridos”, pois eles tem a preocupação com o mapeamento. Lagnado colocou que a exposição sempre depende do curador que vai estar a frente do projeto. Ela é, assim, “uma caixa de ressonância do que o curador pretende colocar no espaço”. “Como esse espaço pode ser social, no sentido de instaurar lugar político e mudar não só o formato da exposição?”, questionou Lagnado. Para responder a essa questão Basbaum usou a palavra “perigo”, sugerida por Lagnado, e “perigo curatorial”. Para ele, no circuito institucionalizado, a figura mais estável é a do curador, no senso comum, o perigo da exposição se atribui ao artista. Porém hoje ocorreria uma inversão, e a mídia só percebe agentes provocadores nos curadores, e “não vemos cuidado em trazer algo do encontro com as obras, e sim com o evento, uma entidade que tem uma dimensão pública mais clara”. Para exemplificar um caso de substituição do curador funcionário pelo intelectual, Basbaum usou o caso do artista David Medalla, que em 2000 fez a London Biennale. A Bienal se consistiu em uma proposição para que qualquer artista do mundo pudesse participar da exposição, bastava enviar três fotografias dele (do artista) com uma  flecha escrito “Bienal de Londres” e junto à estátua de Eros em Londres. Ao longo da Bienal, vários encontros ocorreram na frente da estátua de Eros. “É um evento desburocatizado, que possibilita uma rede a partir de encontros, e vemos que isso acontece a partir da poética do artistas”, concluiu Basbaum. A Temporada de Projetos na Temporada de Projetos também tem sido chamada de “conceitual”, e comparada com a última Bienal, além de já ter sido ‘acusada’ de uma “exposição sem arte”. A possibilidade dos projetos de artistas poderem substituir as obras sempre é colocada como uma pergunta e não uma afirmação, ou seja, o fato é que a princípio realmente não sabemos se é uma “exposição sem arte”. Vale a pena notar também que, diferente de Basbaum, na nossa proposta não se pretende que a prática como artista intervenha plasticamente na curadoria, ou seja, o fato da Temporada de Projetos na Temporada de Projetos ser uma exposição com curadoria de artistas não implica que ela vai ter um aspecto artístico, no sentido de elaborar uma “escultura curatorial”, e sim implica na realização de uma exposição que toma a experiência artística como ponto de partida para a proposta.

Projeto Portfólio: segundo encontro

Quando chegamos no Paço das Artes para assistir a segunda edição do Projeto Portfólio, parte do programa do educativo para a Temporada de Projetos, Laerte Ramos já falava ao público (desta vez mais heterogêneo, formado por adolescentes e adultos) sobre a sua trajetória por meio de uma projeção de imagens de trabalhos já realizados. Ao longo da sua apresentação, Laerte foi literalmente bombardeado de perguntas! Aqui vão algumas anotações nossas sobre essa conversa (desculpem, nem as perguntas nem as respostas estão completas, mas foi mais ou menos assim…!):
Laerte Ramos no Portfólio

Laerte Ramos fala com público no Projeto Portfólio

Pergunta: O que é arte contemporânea? Laerte: É a arte feita hoje. Arte é pesquisa, não é certeza. Eu tenho sempre que ter dúvidas para continuar pesquisando. Pergunta: O que é arte para você? Laerte: É expressão. é acordar, tomar banho, tomar chá japonês. Pode ser um caminho. depende de todo mundo. P: Você sentiu desejo de fazer arte desde pequeno? L: Desde a escola, onde eu aprendi a fazer coisas com a mão: cadeiras, mesas, coisas com lã, fio, tapete. P: Você vende as obras? L: Não tenho salário. Trabalho de segunda a segunda. Tento vender, mas é difícil. Tento ganhar a vida a partir de projetos. Por isso tento melhorar a apresentação do portfólio, saber escrever bem, tirar foto, como apresentar o trabalho. P: Você teve algum incentivo na família? Alguém que era artista? L: Não, não tive nenhum incentivo… P: Arte é artesanato, na minha referência. Arte é cultura, música, teatro, expressão. A arte como se pretende é elistista, e eu venho da periferia… L: Estamos mais acostumados com a música. Esse outro tipo de arte requer mais conhecimento; requer outro lugar. A cerâmica, por exemplo, eu não posso deixar na rua, mas as vezes a arte pode ir à rua e funcionar também. Posso dizer que para mim, as referências vem da rua, de amigos, exposições, filmes, cinema… tudo vira referência. Não adianta ficar só no atelier ou só vendendo. Eu venho aqui também para aprender com vocês, fazer trocas. P: Você tem alguma inspiração para fazer os trabalhos? L: Não diria inspiração. Mas artistas da minha geração e amigos são referências. P: Você dá título aos trabalhos? L: Às vezes o título vem antes do trabalho. Acho importante ter nome, saber qual série é, o que ele é, para não ser “sem título”… P: E qual foi a sua inspiracão para fazer esse trabalho [pergunta referente ao trabalho "re.van.che", apresnetado na Temporada de Projetos]? L: No meu atelier eu tenho um saco de luta. Vivo agora na liberdade [no bairro], e vejo bastante os elementos da rua. Também tem a fragilidade da cerâmica…. Gostaria que esse trabalho fosse como uma revanche contra a cerâmica, tipo tapa na cara da cerâmica! P: E porque não foi você que chutou o saco? [pergunta referente à performance do trabalho "re.van.che"] L: Ah! Porque uma mina é mais bonita! [risos]. E se tivesse sido eu ficaria meio engraçado… P: Quanto tempo você demorou para fazer esse trabalho? L: Cerca de um mês. P: O que você sentiu quando o saco quebrou? [durante a performance de "re.van.che"] L: Tristeza e felicidade. Tapa na cara mesmo! Eu pensei o trabalho no espaço físico aqui do Paço das Artes, o quadradinho. Sempre tenho reservas para o caso de um trabalho quebrar (durante transporte, montagem, etc). Faço peças-reservas. P: Qual foi o projeto mais difícil que você já fez? L: Não tem… desta série aqui foi gerenciar a performance, que era algo que não dependia de mim. P: Era qualquer peça que poderia ter quebrado? Ela [a lutadora da performance de re.van.che] escolheu o que quebrar? L: Não, era só o saco mesmo. Se bem que ela queria quebrar a bola também! L: Esse foi um projeto que estou há 10 anos tentando desenvolver, tentando participar da Temporada de Projetos do Paço. Aprendo mais com isso do que acertando: tentei vídeo, xilo, e surpreendentemente entrei com cerâmica, e acho que assim supererei o preconceito com o material. P: Em que escola você estudou? L: Rudolf Steiner. P: O que você acha da imposição de que não se pode tocar numa obra de arte? L: A política “não toque” não é interessante. Adoraria que todos pudessem tocar. Se bem que às vezes as pessoas abusam. Mas quebrar é interessante: veja o que acontece!

“A gente é sempre ‘hóspede’ dentro da instituição: nem sempre é bem visto”

Na vez das três integrantes do grupo Hóspede falarem, muitos dos grupos de estudantes presentes tiveram que ir embora, assim a apresentação delas foi para um público bem menor que a do Laerte. O Hóspéde tem um trabalho bastante interessante e provocativo, e por isso a apresentação (também por projeção de imagens de trabalhos realizados) poderia ter sido um pouco mais lenta e detalhada para uma melhor discussão dos trabalhos, o que não foi possível pois a seção do Portfólio se alongou um pouco.

Érica Ferrari, Carolina Caliento e Flora Rebollo falam sobre os trabalhos anteriores do Hóspede

Érica Ferrari, Carolina Caliento e Flora Rebollo falam sobre os trabalhos anteriores do Hóspede

As integrantes começaram falando da origem do grupo, que aconteceu em 2005 em uma disciplina de Escultura da prof. Ana Maria Tavares, na ECA-USP, e na qual Jorge Menna Barreto era professor assistente. A proposta feita para a disciplina era que os alunos realizassem trabalhos pensando nas especificidades do Departamento de Artes Plásticas. A disciplina também gerou o intercâmbio “Brasília hospeda São Paulo”, no qual alguns alunos da ECA fizeram uma expedição para Brasília para realizar um trabalho na Galeria de Bolso da Casa de Cultura da América Latina. Naquela época o Hóspede tinha 7 integrantes, depois, já de volta a SP, foram só 6 por muito tempo (até hoje, serem somente 3). As atuais integrantes afirmaram que usam desde o início a estratégia de fazer projetos para enviar para editais e assim conseguirem pró-labore para realizarem os trabalhos. Para o “Edital de Ocupação dos Espaços da Caixa Cultural“, em 2006, o Hóspede enviou um projeto para realizar uma ‘Casa de Penhores’, mas, apesar de selecionado, o projeto não foi realizado por problemas na instituição, que atrasou o projeto diversas vezes até que ele foi cancelado! Também em 2006, o Hóspede foi selecionado no Salão de Exposições de Santo André, São Paulo, onde construiram um grande banco no saguão do Paço Municipal para que as pessoas que ficavam esperando para entrar no teatro tivessem acomodação. Já para o  Prêmio Flamboyant (hoje extinto), do  Salão Nacional de Artes de Goiás, o grupo criou também um lugar de acomodação, só que dentro da sala de exposição, que ficava no Flamboyant Shopping Center e onde estavam expostos outros trabalhos selecionados, o móvel criado pelo grupo ironizava a estética de assentos dos shoppings centers. Em 2007, o Hóspede foi contemplado com um grande incentivo vindo do “Concurso de Apoio a Produção nas Áreas de artes Visuais, Fotografia e Novas Mídias” do Programa de Ação Cultural da Secretaria do Estado de São Paulo. O grupo realizou o projeto “Laboratório Hotel” — formação de centro de estudo e residência no Largo da Batata, região que estava prests a iniciar um processo de reconversão urbana. Segundo uma das integrantes “É difícil dizer o que foi…”. Mas, em linhas bem gerais, pretendia criar um centro sócio-cultural temporário que ficasse em contato com a condição urbana do entorno. A preocupação com a arquitetura urbana é parte dos projetos criados pelo Hóspede, que se diz interessado em questionar e ironizar essa “nova arquitetura que é fruto da especulação imobiliária de empresas; uma arquitetura monumental que vai representar um empreendimento; uma  arquitetura pós-moderna, que é mais imagem que arquitetura, é como pintura, uma escultura que você transita (…)  É um elefante branco, um abacaxi, que aparece sem estudar a área e conhecer o entorno. Os projetos de arquitetura caem do nada sem saber o que acontece ali”, conforme afirmou uma das integrantes na apresentação. Ao final da apresentação algumas perguntas foram feitas ao grupo em relação ao trabalho apresentado no Paço das Artes, um extenso tapume que cobre toda a entrada do edifício do Paço das Artes bem como uma série de ações que indicam que aquele lugar passará por um processo de reconversão, se tornando um “Pineapple Luxury Complex “. A maioria das pessoas disseram não ter percebido que aquilo se tratava de um trabalho de arte até aquele momento. O grupo respondeu afirmando que o trabalho pode e funciona com diversos públicos: existem pessoas que passam de carro pelo Paço e não percebem como arte. Isso, nas palavras do grupo, seria uma atitude perversa, de criar uma situação que parece real. “A arte não precisa ser didática”, afirmaram, “queremos pensar um trabalho para o lugar, pensar sobre o espaço, se as pessoas entendem se é obra de arte ou não é problema delas!”. As integrantes do grupo argumentaram também que na Universidade aprenderam a questionar as coisas ao redor, e não somente fazer ‘objetos estéticos’. “Trocar com as pessoas” e conversar sobre o que as atinge são coisas que o Hóspede disse estar buscando. O artista Cristiano Lenhardt, por não residir em São Paulo, não pôde comparecer ao evento.

Membranosa-entre (NBP), de Ricardo Basbaum

O artista Ricardo Basbaum abriu hoje uma nova exposição individual na galeria Luciana Brito, em São Paulo. Denominada membranosa-entre, a exposição faz parte do projeto NBP (Novas Bases para a Personalidade), e foi desenvolvida exclusivamente para o espaço da galeria.
membranosa-entre

a exposição "membranosa-entre (NBP), na Luciana Brito

Nós convidamos o Basbaum para participar como um dos palestrantes da Temporada de Projetos na Temporada de Projetos, e na abertura da exposição conversamos muito rapidamente sobre a nossa proposta e sugerimos pensar o formato da palestra juntos. O nosso interesse é criar um pensamento-estrutura para algo que não se resuma à palestrante-microfone-mediador-platéia e sim algo que envolva o público (participante) dos encontros; um envolvimento que inclusive é pensado na exposição que estava sendo inaugurada. Ficamos de encontrar o Ricardo numa ocasião mais apropriada para falar sobre a Temporada de Projetos na Temporada de Projetos e como ele irá atuar.
em: 26/03/2009

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Encontro com Cayo Honorato

O Cayo Honorato, artista e educador, propôs que conversássemos com ele sobre a Temporada de Projetos na Temporada de Projetos” a partir de uma idéia de “invenção artística”. E sugeriu duas entradas:
1. a de que o projeto possa efetuar, se já não o faz conceitualmente, uma redistribuição de poderes em relação a um comum, nos termos do Rancière [Jacques Rancière, filósofo francês], entre selecionados e não-selecionados, curadores e artistas, etc. 2. a de que ele possa articular de algum modo a condição conceitual e a processual das práticas artísticas contemporâneas, na discussão entre projeto e resultado, sobretudo, levando-se em conta a lógica dominante do formato projeto, a informar um tipo particular de produção, talvez em detrimento de outros.
O Cayo achou a nossa proposta bastante relevante e quis saber como ela surgiu. Falamos da ausência de retorno que tínhamos sobre os projetos que elaboramos bem como de uma frustração de quando eles são selecionados. Além disso, explicamos o porquê de termos optado por um projeto de curadoria, apesar de sempre existir uma dúvida de uma “categoria” das coisas que fazemos. O Cayo fez um comentário pertinente a esse respeito, afirmando que são práticas que ainda não têm um lugar específico, e que surgem mas não cabem nesses modelos. O Cayo mesmo lembrou de uma afirmação feita pelo Boris Groys no livro “Art Power“: o novo aparece no mesmo.
Capa do livro Art Power de Boris Groys

Capa do livro "Art Power", de Boris Groys

Falamos também sobre alguns desdobramentos e reações dos artistas e curadores convidados para participar. Sobre as circunstâncias atuais do “pensamento projetual” em geral, o Cayo se referiu a uma “neurose” que se expressa num frequente desacordo entre intenção e realização, vontade e ato, sentimento e acontecimento. Sobre isso, lembramos da conversa que tivemos com o Groys e de uma noção de dissincronia, entre projeto e realização, na qual ele se refere num texto que nos enviou ainda não publicado. Segundo a fala do Cayo, “pro-jetar significa ‘lançar adiante’, o que implica uma decisão inicial e uma indeterminação final”, porém “por vezes nos esquecemos disso, acreditando que o sentido está no fim.” E apontou que “disso decorrem tantos perigos objetivos, mas para ficarmos com uma dimensão apenas do equívoco: segundo Hannah Arendt, ‘nem a liberdade nem qualquer outro significado podem ser jamais o produto de uma atividade humana no sentido de que a mesa é, evidentemente, o produto final da atividade do carpinteiro’ (in: entre o passado e o futuro, p. 113). Enfim, é nesse intervalo deslizante que se move a consecução de um projeto – o que levanta questões políticas e históricas, além de estéticas.” Durante a conversa, outra questão foi debatida a partir da provocação do Cayo: “o modelo de editais e seleção de projetos muda a arte?”. Como essa lógica determina um tipo de arte, privilegiando um tipo de produção? Acreditamos que a pergunta do Cayo é válida e não tem ainda uma resposta satisfatória, mas que pode ser explorarada desde já e também nos encontros que planejamos para a Temporada de Projetos na Temporada de Projetos. De fato existem tipos de produção que se adequam ao formato de projeto facilmente, como os trabalhos de fotografia em que o que geralmente varia entre projeto e obra é o tamanho das fotos. Ou seja, o trabalho pode ser visto claramente no projeto. Comentamos também a exigência dos editais por um formato específico de projeto que de certo modo pode definir algumas características do trabalho. Por exemplo, muitos editais pedem a classificação da obra (pintura, escultura, gravura, fotografia, novas mídias, etc.) ou um dado número de fotos de trabalhos diferentes, coisas que nem sempre todo artista tem claro ou que todo trabalho pode ser adequado. Além disso, os formatos nos quais os projetos são aceitos raramente se estendem para além do texto impresso, sendo que, não poucas vezes, há até limitações no tamanho e tipo do papel a ser usado! Lembramos que falta uma noção mais clara do que é um projeto, qual deve ser o seu escopo, seu objetivo como projeto. Particularmente consideramos que o projeto pode ser encarado como uma proposta inicial, que não necessariamente indica o que vai ser ser feito passo-a-passo. Muitas vezes existe muito tempo entre o momento da elaboração do projeto e a realização dele; ou seja, há muito tempo para que as coisas mudem (bastante). Mas acreditamos que isso não passa de uma consideração particular e que certamente pode ser abordada de muitas outras formas, não só por artistas ou curadores, mas, mais importante, por membros de júris que analisam projetos; que podem, por exemplo, esperar que o projeto seja uma descrição absolutamente fiel do que vai ser realizado quando aprovado (como é esperado em diversas outras áreas de produção humana que envolvem prestação de serviços para um cliente, como, por exemplo, costuma ocorrer na arquitetura). Por fim, em decorrência de uma pensamento que surgiu após o encontro com Milton Sogabe, discutimos a idéia do “novo”, do ineditismo, ou da originalidade, que são, mais do que qualidades, critérios cobrados por esse modelo. Assim, por esse modelo, a arte estaria então atrelada à idéia do novo. As instituições, para sua promoção, querem algo novo bem como também esperam um determinado tipo de produção. E chegamos a um mar sem fim sobre essa idéia. Lembramos do trabalho da Sturtevant, no qual o “novo” está na cópia do “velho”, ou seja, um novo que não é novo; o Cayo lembrou da Sherrie Levine e o seu “After Waker Evans“. Ambas são um exemplo de que o novo aparece no mesmo… Indiferentemente de como o novo surge, parece que ele é mesmo um critério para que haja interesse sobre um trabalho, o que faz da originalidade uma característica que permanece na arte.