Folder
Conforme planejávamos (e já nos havia sido pedido pela equipe do Paço), escrevemos o texto que estará no folder da Temporada de Projetos (que normalmente fica disponível para o público na entrada do Paço).
Todos os folders da Temporada de Projetos 2009 foram desenhados de acordo com um projeto da ps.2 e seguem uma lógica que os conecta por um degradé de cores; isso não será diferente no caso da Temporada de Projetos na Temporada de Projetos (do ponto de vista do design).
Ao contrário do que aconteceu com os artistas que expõem obras, preferimos escrever nós mesmos o texto do folder e não deixá-lo para ser escrito por um crítico como vinha acontecendo com os artistas.
A intenção de nosso texto foi uma apresentação bastante breve e concisa da exposição (principalmente tendo em vista o limite de 3600 toques para o tamanho do texto), visando possibilitar a aproximação inicial de uma vasta gama de público. Por isso mesmo deixamos de lado a “mostarda dos conceitos que regem/motivam/informam/inquietam a curadoria, cuja inclusão necessariamente obrigaria transformar o texto em algo muito hermético.
Além do texto abaixo, o folder deverá conter também uma lista com os nomes do artistas que expõem seus projetos.
Em “The Loneliness of the Project“, Boris Groys defende que a formulação de uma grande variedade de projetos se tornou a maior preocupação do homem contemporâneo. Segundo ele, “nos dias de hoje qualquer que seja o objetivo que se queira perseguir no campo econômico, político ou cultural, é necessário primeiro formular um projeto adequado para submetê-lo para aprovação ou financiamento oficial de uma ou várias autoridades públicas”.[1] Groys também afirma que Hegel já apontava a origem da necessidade de elaborar projetos como uma característica de todas as sociedades pós-revolucionárias pelo fato de que “prescrevem objetivos racionais, procedimentos e estratégias aos seus membros, e exigem deles explicações, justificativas e planos precisos”.[2] Dentro do campo das artes visuais ocorre exatamente o mesmo. Em momentos variados, como por exemplo para a produção de uma exposição, criação de um museu ou centro cultural e mesmo para o desenvolvimento de uma obra de arte, é imprescindível a elaboração de um projeto. Na maioria das vezes este projeto é formatado e re-formatado para ser apresentado em vários contextos institucionais que exigem determinados padrões para que uma avaliação seja possível dentro de seus programas periódicos que convocam o envio de projetos artísticos. Dentro do Paço das Artes, a “Temporada de Projetos” desempenha esse papel. Desde 1999 convoca, por meio de edital público, artistas de todo o país a enviarem seus projetos para que sejam realizados na instituição. Como em tantos outros programas deste tipo, também na “Temporada de Projetos” é inacessível ao público a origem das obras apresentadas, ou seja, a etapa inicial da produção artística (projeto) costuma ser velada já que as obras de arte geralmente são apresentadas como um produto acabado.A exposição
“Temporada de Projetos na Temporada de Projetos” pretende estabelecer uma rede de reflexões sobre processos artísticos e curatoriais e oferecer um espaço de debate por meio das seguintes propostas:
- Uma exposição de projetos na qual todos os 322 artistas e curadores que enviaram projetos para o “Edital Temporada de Projetos 2009” do Paço das Artes foram convidados a participar, independente do resultado da seleção. Desses 322 inscritos, participam da exposição cerca de 150 projetos.[3]
- Realização de atividades por meio das quais pretende-se esclarecer, ampliar e aprofundar os temas sugeridos pela apresentação dos projetos. São oficinas e palestras que acontecem no espaço expositivo e cujos formatos são repensados junto com cada um dos convidados para ministrá-las. Como parte dessas atividades está prevista uma série de encontros com docentes de diversas unidades da Universidade de São Paulo, convidados para apresentar e refletir sobre a noção de projeto em suas respectivas áreas de conhecimento, contribuindo assim para o debate na área de artes.
- A criação e manutenção do website http://projetosnatemporada.org, onde são documentados os processos de desenvolvimento das propostas anteriores. Outros recursos da internet como Twitter, Facebook, del.icio.us e listas de discussão também são utilizados para divulgação, relatos, registros, referências e debates.
Notas
[1] – GROYS, Boris. “The Loneliness of the Project”. In: WOENSEL, Jan Van (Ed.) “New York Magazine of Contemporary Art and Theory”, Issue 1.1, 2002. Disponível em: www.ny-magazine.org/PDF/Issue%201.1.%20Boris%20Groys.pdf [2] – GROYS, Boris. “The Mimesis of Thinking”. In: DE SALVO, Donna (Ed.) “Open Systems”, Tate, 2005. [3] – Dentre os 172 restantes, 61 recusaram o convite para participar, 89 não se manifestaram e 22 não enviaram a documentação necessária para efetivar sua participação apesar de terem demonstrado interesse na exposição.
olá. um comentário talvez a essa altura já impertinente.
o texto do groys é ótimo, mas fico pensando se pela relevância dele como referência da curadoria de vocês – que o citam no folder e tudo – não seria bacana traduzi-lo para português e disponibiliza-lo aqui (e/ou oferecer para as mídias que forem cobrir a exposição…)
normalmente o pessoal lê bem em inglês, mas não são todos, mesmo.
se acharem importante e acharem que ele pode simpatizar com a idéia, me disponho a dar uma força nessa tradução.
Oi Paulo, Sim! Sim! A tradução do “Loneliness of the Project” é uma das nossas tarefas mais prementes no momento. Já obtivemos autorização do próprio Groys para fazê-la e publicá-la aqui no site. Nós também achamos importantíssimo disponibilizar esse texto em português.
Bom saber que podemos contar com a sua ajuda para traduzí-lo. Assim que tivermos uma versão inicial entramos em contato para que você dê uma força. Obrigado.