Encontro com Tadeu Chiarelli
Na recém-improvisada área de convivência do Departamento de Artes Plásticas da USP, conversamos sobre curadoria e processos curatoriais ligados a projetos artísticos com o intuito de instigar o crítico, curador, historiador e professor Tadeu Chiarelli à um convite para que participasse da Temporada de Projetos na Temporada de Projetos.
Um dos motivos para tê-lo chamado é a extensa e crescente lista de participações em júris de editais em todo o país. Mas, claro, o que interessa muito é que, além disso, ele também exerce a posição de curador e crítico de arte, o que permite uma abordagem em contraposição por experiência própria de cada um desses papéis.
A nossa conversa começou com uma explicação básica sobre o projeto, onde contamos as idéias principais, o funcionamento da autorização, as reações dos artistas convidados e como incluí-las na exposição. Falamos um pouco também sobre como vemos a ligação do Paço com a USP e algumas formas que pensamos de convidar docentes de outras áreas para participarem de atividades ligadas à exposição para abranger interesses de outras unidades da USP que sejam ligadas ao tema dos projetos, quase que numa tentativa de conectar o Paço com a USP por meio de uma abordagem interdisciplinar.
Ligado ao tema dos editais, Tadeu contou um pouco sobre algumas características que ele destaca de suas experiências, principalmente como vê a sua bagagem como crítico e curador influenciar na prática de seleção em júris e como isso acaba ficando claro no momento em que essa seleção é realizada em conjunto com outros profissionais. Além disso, contou como, em alguns salões, há ainda uma incompreensão sobre qual é o papel do curador e, não raro, está entre suas incumbências a montagem da exposição.
Numa segunda colocação, Tadeu se disse bastante surpreso com o crescente interesse em curadoria nos últimos anos. Interesse esse que o alcança diretamente não só por ter vasta carreira em curadoria, mas também pela posição que ocupa dentro do Departamento de Artes Plásticas, contexto universitário onde, segundo ele, houve recentemente uma intensificação sobre o debate sobre a “profissionalização” dessa posição.
Para ele, um grande problema relacionado a esse debate é uma relativa falta de tradição da curadoria no país, ou seja, a inexistência de uma história dessa prática local ligada também ao fato do próprio conceito de curadoria ter poucas oportunidades para ser refletido sobre ou colocado em debate. Falta essa que acaba gerando a necessidade de uma base sobre a qual novas práticas curatoriais possam ser avaliadas, sejam as mais experimentais ou as mais tradicionais, seja positiva ou negativamente; enfim, que permita um posicionamento mais claro sobre a curadoria. Mais ainda, Tadeu disse não acreditar numa prática curatorial que seja uma prática profissional autônoma, ou seja, que não seja pautada em uma pesquisa — ou desenvolvimento de uma pesquisa — de crítica e de história da arte. Essa crença, ainda segundo ele mesmo, pode advir de sua formação ou mesmo de uma diferença geracional, mas que poderia ser esclarecida se as posições relativas ao tema se tornassem públicas e abertas.
Ainda nesse contexto, Tadeu explicou um pouco sobre o seu próprio processo como curador, que ele próprio chamou de uma abordagem muito particular, na qual ele sempre parte de um interesse por uma obra e não por um artista. O que, para ele, significa que a relação estabelecida é entre o curador e a obra e não entre o curador e o artista nem mesmo entre o curador e um projeto, que ele teria que acompanhar, já que ele prefere encarar a curadoria como um produto final sobre o qual ele possui controle e não como um processo. Mas foi aí que, lembrando de algumas práticas anteriores, ele se recordou da experiência que teve com o Projeto Parede do MAM, no qual era inevitável que buscasse um artista para desenvolver um projeto, já que há uma limitação muito concreta, clara e precisa: a parede. De qualquer forma, essa atuação distinta daquela que vinha relatando, segundo ele a única série de projetos que ele desenvolveu dessa forma com artistas, levou a uma breve reavaliação da maneira como Tadeu encara a sua prática, ainda de modo reticente, mas que, de qualquer forma, deixou margem para alguns pontos que podem ser abordados na sua palestra dentro da Temporada de Projetos na Temporada de Projetos.