Encontro com Cauê Alves
Fomos na Rua Maria Antonia nos encontrar com o crítico, curador, e professor Cauê Alves para esclarecer a ele como gostaríamos que ele orientasse o workshop de curadoria que planejamos para a Temporada de Projetos na Temporada de Projetos. Além fazer parte da equipe de jovens críticos da Temporada de Projetos 2009 (acompanha o artista Maurício Ianês), o Cauê Alves foi também júri de inúmeras seleções em editais e salões de arte (inclusive no Paço das Artes, onde também participou de pré-seleções).
Ele entendeu muito rapidamente nossas intenções com a exposição, que não é uma exposição sobre “salão dos recusados”, “inclusão de todos”, ou “crítica institucional”, o que segundo ele já foi feito muito por artistas principalmente nos anos 70, e sim sobre projetos artísticos e reflexões sobre o que é curadoria e processo de seleção. Inclusive, quando sugerimos que por meio da exposição o público, tendo uma maior variedade de ’opções’, poderia fazer sua própria curadoria ao selecionar o que quer ver, o Cauê Alves contestou: “Curar é diferente de selecionar. Você não pode ir até o supermercado, escolher alguns produtos e dizer que você está fazendo uma curadoria!”, apontando para uma banalização crescente do conceito de curadoria, “toda curadoria envolve seleção, mas nem toda seleção envolve curadoria”, já que uma curadoria envolve ainda conhecimento, pesquisa, proposta, projeto, acompanhamento…
Ele comentou como funcionavam as JACs (Jovem Arte Contemporânea), levadas a cabo por Walter Zanini nos anos 70 no MAC (Museu de Arte Contemporânea), para as quais não havia critério de seleção, os inscritos eram selecionados por sorteio. Segundo Cauê Alves, Zanini dizia que não havia critérios de seleção suficientes para dar conta das inscrições, ou seja, seria impossível escolher entre os inscritos e o sorteio era a única forma possível de fazê-lo. Ele mencionou um trabalho de Genilson Soares no qual ele selecionava todos os inscritos para o sorteio.
De qualquer modo, durante a nossa conversa ficou claro que o nosso interesse não são as “utopias de inclusão” (como colocou Alves), e sim um uma reflexão sobre mecanismos de produção e também de curadoria. Ele se interessou bastante pelos formatos que estamos propondo que, segundo ele, se assemelhariam a uma espécie de ‘grande congresso’ sobre arte. Mais especificamente em relação aos workshops, ele fez uma colocação muito instigante que foi a possibilidade de aceitar também projetos de curadoria nos workshops de projetos, algo que não nos tinha ocorrido antes.
Ele também nos alertou para o “método” de inscrição nos workshops, afirmando que quando a atividade oferecida é gratuita, muita gente se inscreve mas não comparece no dia, e assim, seria interessante elaborar estratégias para garantir o comprometimento de quem se inscrever, e sugeriu a criação de uma lista de espera e talvez um período curto para as inscrições; mesmo que ele tenha compartilhado uma dúvida se realmente um workshop de curadoria atrairia muito interesse, que nós dissemos acreditar que sim por acreditarmos (e conhecermos) jovens curadores que se interessariam. Atônito, ele exclamou que ele era um “jovem curador”!
Pensamos com o Cauê Alves um workshop de duração de dois dias, e 3 horas cada dia, em que os participantes terão a possibilidade de entrar em contato e compreender algumas das características da realização de uma curadoria na condição de jurado de projetos. As experiências anteriores dele em seleção proveriam o conhecimento prático para analisar os projetos, até mesmo de um ponto de vista mais “institucional”, já que, segundo ele, existe um equilíbrio entre uma descrição muito genérica e uma muito específica de um projeto, um certo “nível de projetualidade”; o primeiro caracterizando um pedido de “carta branca” para a atuação do artista e o segundo uma apresentação que não configura de fato um projeto, mas sim algo já muito mais determinado do que o que se esperaria de um.
Uma possibilidade discutida para o formato é que os participantes sejam colocados na posição de júri, visando a reflexão e a prática da atividade julgadora e curatorial pela vivência desse processo, utilizando os projetos da exposição como material bruto, e de origem real, a ser trabalhado. Uma dinâmica possível, que ele próprio já vivenciou, é dividir os projetos entre os participantes para que eles os analisem separadamente e depois façam pequenas apresentações sobre o que leram, algo comum em seleções por júris coletivos. Essa dinâmica poderia ser precedida por uma prática coletiva na qual seria feito uma espécie de “estudo de caso”, com um projeto-modelo, permitindo assim uma maior clareza e autonomia num segundo momento no qual os outros projetos todos são analisados individualmente pelos participantes.
Uma outra coisa que contamos para o Cauê Alves foi sobre a nossa tentativa de realizar no subsolo do Paço das Artes um encontro com os artistas inscritos no Edital do Paço das Artes, e portanto convidados a exporem seus projetos, para esclarecer aos interessados detalhes da proposta da Temporada de Projetos na Temporada de Projetos. Pedido no começo do ano, esse encontro não foi autorizado pela equipe de produção do Paço das Artes e não foi realizado.