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O que é um jovem crítico?

Fernando Oliva, gerente de projetos do Paço, nos enviou um email sobre a possibilidade de termos alguém que escreva  sobre o nosso projeto e perguntou se nós tinhamos alguma indicação, tendo o perfil “jovem crítico” como condição. Além de ficarmos na dúvida se isso substituiria nosso próprio texto de apresentação, ficamos nos perguntando o que exatamente seria um “jovem crítico”. E sentimos uma carência de uma indicação de alguém que fosse da nossa geração — ou seja: nascidos no começo dos anos 80 — e que tivesse interesse por crítica de arte. E inclusive já estávamos um pouco insatisfeitos com o campo da crítica de arte no Brasil em geral, assunto sobre o qual vínhamos conversando com o Deyson Gilbert (artista) e a Clarissa Diniz (artista e co-fundadora da revista Tatuí). Estas duas pessoas, Deyson e Clarissa, poderiam ser duas indicações possíveis a esse “cargo”, mas mesmo assim seguimos inseguros com a função e ficamos sem dar uma resposta definitiva.

Elaboração de um projeto: Temporada de Projetos na Temporada de Projetos

A prática de elaboração de projetos na qual nos percebemos inseridos constantemente e que podíamos identificar também como a abordagem principal da produção de muitos outros artistas originou a idealização de uma exposição somente de projetos artísticos. Tal idealização tomou para ela mesma, desde o início, também a forma de um projeto, que poderia ser enviado para alguma seleção pública. 

Nas ocasiões da divulgação dos editais do 15° Salão da Bahia e, logo em seguida, o do 47º Salão de Pernambuco, o que vinha em mente era propor a idéia da exposição dos projetos como uma proposta artística. Essa idéia continuou praticamente inalterada (e não realizada) até pouco depois da divulgação do Edital Temporada de Projetos 2009, do Paço das Artes, mas pelo fato do Paço das Artes aceitar projetos de curadoria que surgiu uma reflexão sobre qual seria a categoria (curadoria ou obra) apropriada para o desenvolvimento de uma proposta como essa. A decisão por desenvolvê-la como projeto de curadoria foi escolhida pois assim seria possível propor atividades de suporte capazes de atribuir à exposição um maior alcance formativo e também que pudessem criar diálogos e debates públicos, por meio de vivências e discussões em palestras e workshops. Mesmo assim, essa escolha não excluiu a inquietação sobre os limites entre o trabalho do artista e o do curador, e foi por isso que essa inquietação foi incluída na proposta.

Todo o processo de elaboração da proposta foi extremamente trabalhoso, mas o resultado foi bastante satisfatório, incluindo a experiência e o desafio de elaborar uma proposta de curadoria. Tudo foi muito bem pensado para gerar a proposta: a motivação, os argumentos, as pessoas que envolvidas, as atividades, a expografia, o orçamento, a metodologia, o design gráfico e a construção do texto. A discussão dela se deu principalmente entre nós dois, mas contamos com algumas ajudas, sugestões e comentários tanto para a correção do texto como para questões sobre as dificuldades jurídicas da exibição de projetos. E aí vão os agradecimentos: Jorge Menna Barreto, Deyson Gilbert, Lucile Winter e Luis Roberto Proença.

Antes de começar a escrever o projeto iniciamos uma pesquisa sobre como algumas instituições se encarregam de devolver os projetos após um edital. Interessava saber, principalmente, se alguma delas arquivavam os projetos de alguma forma. Uma das principais questões era: por que as instituições não arquivam os projetos, tendo em vista que poderiam vir a representar uma característica de cada edital e um material de pesquisa sobre a produção contemporânea brasileira muito rico? O Itaú Cultural, numa ligação realizada nessa fase,  informou que os projetos não são devolvidos e, além disso, o destino deles era sigiloso. Foi só numa ligação para o próprio Paço das Artes que ficou claro que esse tipo de atitude tinha precedente legal, ou seja: por lei as instituições não podem permanecer com os projetos, e por isso eles devem ou ser devolvidos aos artistas ou jogados fora; algo que ocorre da mesma forma com provas públicas. A justificativa legal para isso é que a instituição não é dona do projeto e, por isso, somento o autor é quem pode decidir qual o destino dele.

A situação legal da exibição de projetos passou então a ser uma preocupação maior — já havia a intenção de fazer um pedido formal aos participantes do edital para que eles cedessem seus projetos, mas ficou claro que, mais que isso, seria necessário um termo legal no qual os artistas concordariam em deixar seus projetos com o Paço das Artes para que fossem exibidos, evitando quaisquer problemas jurídicos. Além disso, caso o número de interessados em ceder os projetos para a exposição fosse insuficiente, a possibilidade (levantada na proposta inicial) era abrir um novo edital, para o qual também seria necessária uma assessoria jurídica. Por esses motivos  a Cesnik & Salinas, escritório de assessoria jurídica com enfoque específico em instituições culturais, foi contatada. A consulta premilinar que pretendia ser marcada com a Cesnik & Salinas foi incluída no orçamento caso fosse necessária (e caso o projeto fosse aprovado). 

O edital do Paço das Artes foi aberto no dia 01 de Outubro, porém as idéias foram colocadas no papel somente a partir do dia 24 de Outubro. Foram vários dias de trabalho, incluindo madrugadas e fins-de-semana. Dia 7 de Novembro, sexta-feira, à noite, o texto já estava corrigido e diagramado e foi, pela primeira vez, para a impressão na gráfica. No sábado pela manhã, ao buscar o projeto, identificamos alguns problemas na impressão e alguns erros ortográficos. No domingo à noite levamos uma  nova versão para uma outra gráfica e a buscamos na segunda de manhã, dia 10 de Novembro, data limite de entrega dos projetos ao Paço das Artes. Sempre o limite!

Mesmo depois do projeto ter sido entregue no Paço, continuou a ser um grande interesse nosso, o que nos levou a comentá-lo com outras pessoas e também deixou muita ansiedade até o resultado.  Havia clareza das intenções e um reconhecimento da sua potencialidade na estreita relação que estabelecia com o contexto do Paço das Artes. Mas algumas dúvidas permaneciam:  poderia ser ousado demais?, poderia ser equivocadamente entendido como uma simples crítica e/ou denúncia ao sistema de editais?, poderia ofender ao júri?, teria mesmo chances de ser selecionado entre projetos com uma pesquisa teórica mais aprofundada?. Toda essa inquietação pode ser entendida: a idéia como projeto, enfim, passava pelo mesmo processo que colocava em questão. E assim, ficamos aguardando…