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em: 06/08/2009

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temporada de projetos

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A curiosa divulgação do Edital Temporada de Projetos 2010

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Flyer do Edital da Temporada de Projetos 2010 divulgado pelo Paço das Artes. Clique na imagem para ampliar.

Ao entrar no site do Paço buscando por outras informações nos deparamos com a publicação do Edital Temporada de Projetos 2010 (que, por sinal, aparece lá em um lugar onde antes havia uma pequena chamada para a Temporada de Projetos na Temporada de Projetos e o link para este site). A nossa reação foi de completa perplexidade diante de tal situação, a ponto a ter de ser um pouco difícil conter uma reação. No início deste ano de 2009 a própria direção do Paço das Artes agendou a exposição Temporada de Projetos na Temporada de Projetos para Outubro e Novembro argumentando que seria produtivo tanto para os interessados em se inscrever no Edital 2010 quanto para a própria instituição; argumento que pensamos ser muito válido. Porém, o Edital 2010 foi lançado muito antes do início da exposição e, não só isso: também encerrará as suas inscrições muito antes do início da exposição! O lançamento do Edital nessas condições torna evidente a desconexão da instituição com aquilo que ocorre dentro dela. É como se a própria diretoria não soubesse que a Temporada de Projetos na Temporada de Projetos vai acontecer ou que ela guarda uma relação muito estreita com o Edital, inclusive o de 2010. Também nos causa certo estranhamento a desatenção para o fato de que a concomitância da exposição e do Edital traria um interesse público maior para os dois, ou seja, automaticamente potencializaria a ambos. E potencializar também a qualidade dos projetos enviados ao Edital, ora, se a proposta da Temporada de Projetos na Temporada de Projetos inclui a realização de discussões sobre projetos e workshops de elaboração, nada mais natural que os participantes possam aperfeiçoar suas práticas. Além disso, acreditávamos que a exposição poderia servir também como uma oportunidade para realmente repensar o Edital de dentro, isto é, uma oportunidade que poderia ser aproveitada pela própria instituição para modificar o Edital, adaptá-lo a possíveis “diagnósticos” e problemas levantados pelas atividades da exposição. Talvez realmente não exista interesse em mudar o Edital, atender ao público ao qual ele se destina de uma forma mais sensata. O que a equipe do Paço explicou é que encerrando o Edital somente em Novembro, como ocorreu nas últimas edições, não há tempo suficiente para o preparo das exposições, tanto o tempo para os artistas prepararem suas obras quanto para a produção prepar a primeira exposição. A nova data limite para a entrega das propostas, conforme o Edital 2010, é 11 de Setembro, o que vai garantir nada menos que dois meses a mais para os artistas e produtores se organizarem com mais calma. Não há dúvida de que isso parece um bom argumento para que o Edital 2010 tenha sido divulgado da forma relatada acima, mas qualquer que seja o ponto de vista, não deixamos de acreditar que a divulgação foi feita de uma maneira bastante cômoda e poderia ter sido mais adequada às experiências que ocorrem dentro da instituição.

Elaboração de um projeto: Temporada de Projetos na Temporada de Projetos

A prática de elaboração de projetos na qual nos percebemos inseridos constantemente e que podíamos identificar também como a abordagem principal da produção de muitos outros artistas originou a idealização de uma exposição somente de projetos artísticos. Tal idealização tomou para ela mesma, desde o início, também a forma de um projeto, que poderia ser enviado para alguma seleção pública. 

Nas ocasiões da divulgação dos editais do 15° Salão da Bahia e, logo em seguida, o do 47º Salão de Pernambuco, o que vinha em mente era propor a idéia da exposição dos projetos como uma proposta artística. Essa idéia continuou praticamente inalterada (e não realizada) até pouco depois da divulgação do Edital Temporada de Projetos 2009, do Paço das Artes, mas pelo fato do Paço das Artes aceitar projetos de curadoria que surgiu uma reflexão sobre qual seria a categoria (curadoria ou obra) apropriada para o desenvolvimento de uma proposta como essa. A decisão por desenvolvê-la como projeto de curadoria foi escolhida pois assim seria possível propor atividades de suporte capazes de atribuir à exposição um maior alcance formativo e também que pudessem criar diálogos e debates públicos, por meio de vivências e discussões em palestras e workshops. Mesmo assim, essa escolha não excluiu a inquietação sobre os limites entre o trabalho do artista e o do curador, e foi por isso que essa inquietação foi incluída na proposta.

Todo o processo de elaboração da proposta foi extremamente trabalhoso, mas o resultado foi bastante satisfatório, incluindo a experiência e o desafio de elaborar uma proposta de curadoria. Tudo foi muito bem pensado para gerar a proposta: a motivação, os argumentos, as pessoas que envolvidas, as atividades, a expografia, o orçamento, a metodologia, o design gráfico e a construção do texto. A discussão dela se deu principalmente entre nós dois, mas contamos com algumas ajudas, sugestões e comentários tanto para a correção do texto como para questões sobre as dificuldades jurídicas da exibição de projetos. E aí vão os agradecimentos: Jorge Menna Barreto, Deyson Gilbert, Lucile Winter e Luis Roberto Proença.

Antes de começar a escrever o projeto iniciamos uma pesquisa sobre como algumas instituições se encarregam de devolver os projetos após um edital. Interessava saber, principalmente, se alguma delas arquivavam os projetos de alguma forma. Uma das principais questões era: por que as instituições não arquivam os projetos, tendo em vista que poderiam vir a representar uma característica de cada edital e um material de pesquisa sobre a produção contemporânea brasileira muito rico? O Itaú Cultural, numa ligação realizada nessa fase,  informou que os projetos não são devolvidos e, além disso, o destino deles era sigiloso. Foi só numa ligação para o próprio Paço das Artes que ficou claro que esse tipo de atitude tinha precedente legal, ou seja: por lei as instituições não podem permanecer com os projetos, e por isso eles devem ou ser devolvidos aos artistas ou jogados fora; algo que ocorre da mesma forma com provas públicas. A justificativa legal para isso é que a instituição não é dona do projeto e, por isso, somento o autor é quem pode decidir qual o destino dele.

A situação legal da exibição de projetos passou então a ser uma preocupação maior — já havia a intenção de fazer um pedido formal aos participantes do edital para que eles cedessem seus projetos, mas ficou claro que, mais que isso, seria necessário um termo legal no qual os artistas concordariam em deixar seus projetos com o Paço das Artes para que fossem exibidos, evitando quaisquer problemas jurídicos. Além disso, caso o número de interessados em ceder os projetos para a exposição fosse insuficiente, a possibilidade (levantada na proposta inicial) era abrir um novo edital, para o qual também seria necessária uma assessoria jurídica. Por esses motivos  a Cesnik & Salinas, escritório de assessoria jurídica com enfoque específico em instituições culturais, foi contatada. A consulta premilinar que pretendia ser marcada com a Cesnik & Salinas foi incluída no orçamento caso fosse necessária (e caso o projeto fosse aprovado). 

O edital do Paço das Artes foi aberto no dia 01 de Outubro, porém as idéias foram colocadas no papel somente a partir do dia 24 de Outubro. Foram vários dias de trabalho, incluindo madrugadas e fins-de-semana. Dia 7 de Novembro, sexta-feira, à noite, o texto já estava corrigido e diagramado e foi, pela primeira vez, para a impressão na gráfica. No sábado pela manhã, ao buscar o projeto, identificamos alguns problemas na impressão e alguns erros ortográficos. No domingo à noite levamos uma  nova versão para uma outra gráfica e a buscamos na segunda de manhã, dia 10 de Novembro, data limite de entrega dos projetos ao Paço das Artes. Sempre o limite!

Mesmo depois do projeto ter sido entregue no Paço, continuou a ser um grande interesse nosso, o que nos levou a comentá-lo com outras pessoas e também deixou muita ansiedade até o resultado.  Havia clareza das intenções e um reconhecimento da sua potencialidade na estreita relação que estabelecia com o contexto do Paço das Artes. Mas algumas dúvidas permaneciam:  poderia ser ousado demais?, poderia ser equivocadamente entendido como uma simples crítica e/ou denúncia ao sistema de editais?, poderia ofender ao júri?, teria mesmo chances de ser selecionado entre projetos com uma pesquisa teórica mais aprofundada?. Toda essa inquietação pode ser entendida: a idéia como projeto, enfim, passava pelo mesmo processo que colocava em questão. E assim, ficamos aguardando…