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Projeto Portfólio: terceiro encontro

Nota introdutória: ao contrário do primeiro e do segundo, para este relato do terceiro encontro do Projeto Portfólio iremos experimentar um novo formato, um Podcast. Nossa idéia era não repetir o que aconteceu no último encontro do projeto Portfólio, organizado pelo educativo do Paço das Artes: chegarmos atrasados e perder parte da fala dos artistas (naquele caso, perdemos parte da fala do Laerte Ramos). Porém, no encontro do dia 15 de Agosto, em que foram convidados a falar o PINO, o Michel Groiman e o Maurício Ianês (artistas da 3a Temporada de Projetos), chegamos muito mais atrasados! Para nossa surpresa, encontramos pouquíssimas pessoas reunidas (em torno de 11 pessoas, sendo que 3 pessoas eram artistas da Temporada de Projetos e 4 do educativo do Paço das Artes) e a conversa ainda não tinha começado. Somente quando chegamos é que Michel Groisman iniciou a sua apresentação. As apresentações tanto de Michel Groisman quanto da PINO foram bastante instigantes e geraram discussões (ainda que a do primeiro tenha tido um momento rico que não é possível reviver numa gravação como essas, na qual foi jogado o “Polvo”). Após o seu relato, Michel deu a voz aos dois artistas da PINO, que fizeram uma apresentação por meio do seu website http://pino.tc/. O artista Maurício Ianês não compareceu ao evento, e portanto somente o Michel Groiman e o PINO que falaram sobre seus trabalhos. Os arquivos de áudio a seguir são resultado de gravação realizada no Paço das Artes no dia 15 de Agosto de 2009. Michel Groisman:

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PINO:

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Durante sua fala, Michel Groisman propôs uma partida rápida de Polvo, para diversão (e constrangimento?) de todos.

Durante sua fala, Michel Groisman propôs uma partida rápida de Polvo, para diversão (e constrangimento?) de todos. Clique na imagem para ver outras fotos do encontro com os artistas.

No final do encontro conversamos com o Michel Groiman sobre a Temporada de Projetos na Temporada de Projetos. Ele comentou que gostou muito da idéia de exposição, mas que gostaria de sugerir que cada participante, expositor de projeto, recebece um  valor em dinheiro simbólico. Nós explicamos a ele que chegamos a pensar nessa possibilidade, porém como nós temos um orçamento muito pequeno achamos que seria um dinheiro muito insignificante para muito trabalho, pois para cada um dos participantes receber sua parte seria necessário entregar uma grande quantidade de documentos para a instituição, fato que poderia inclusive gerar a desistências de algumas participações!

Projeto Portfólio: segundo encontro

Quando chegamos no Paço das Artes para assistir a segunda edição do Projeto Portfólio, parte do programa do educativo para a Temporada de Projetos, Laerte Ramos já falava ao público (desta vez mais heterogêneo, formado por adolescentes e adultos) sobre a sua trajetória por meio de uma projeção de imagens de trabalhos já realizados. Ao longo da sua apresentação, Laerte foi literalmente bombardeado de perguntas! Aqui vão algumas anotações nossas sobre essa conversa (desculpem, nem as perguntas nem as respostas estão completas, mas foi mais ou menos assim…!):
Laerte Ramos no Portfólio

Laerte Ramos fala com público no Projeto Portfólio

Pergunta: O que é arte contemporânea? Laerte: É a arte feita hoje. Arte é pesquisa, não é certeza. Eu tenho sempre que ter dúvidas para continuar pesquisando. Pergunta: O que é arte para você? Laerte: É expressão. é acordar, tomar banho, tomar chá japonês. Pode ser um caminho. depende de todo mundo. P: Você sentiu desejo de fazer arte desde pequeno? L: Desde a escola, onde eu aprendi a fazer coisas com a mão: cadeiras, mesas, coisas com lã, fio, tapete. P: Você vende as obras? L: Não tenho salário. Trabalho de segunda a segunda. Tento vender, mas é difícil. Tento ganhar a vida a partir de projetos. Por isso tento melhorar a apresentação do portfólio, saber escrever bem, tirar foto, como apresentar o trabalho. P: Você teve algum incentivo na família? Alguém que era artista? L: Não, não tive nenhum incentivo… P: Arte é artesanato, na minha referência. Arte é cultura, música, teatro, expressão. A arte como se pretende é elistista, e eu venho da periferia… L: Estamos mais acostumados com a música. Esse outro tipo de arte requer mais conhecimento; requer outro lugar. A cerâmica, por exemplo, eu não posso deixar na rua, mas as vezes a arte pode ir à rua e funcionar também. Posso dizer que para mim, as referências vem da rua, de amigos, exposições, filmes, cinema… tudo vira referência. Não adianta ficar só no atelier ou só vendendo. Eu venho aqui também para aprender com vocês, fazer trocas. P: Você tem alguma inspiração para fazer os trabalhos? L: Não diria inspiração. Mas artistas da minha geração e amigos são referências. P: Você dá título aos trabalhos? L: Às vezes o título vem antes do trabalho. Acho importante ter nome, saber qual série é, o que ele é, para não ser “sem título”… P: E qual foi a sua inspiracão para fazer esse trabalho [pergunta referente ao trabalho "re.van.che", apresnetado na Temporada de Projetos]? L: No meu atelier eu tenho um saco de luta. Vivo agora na liberdade [no bairro], e vejo bastante os elementos da rua. Também tem a fragilidade da cerâmica…. Gostaria que esse trabalho fosse como uma revanche contra a cerâmica, tipo tapa na cara da cerâmica! P: E porque não foi você que chutou o saco? [pergunta referente à performance do trabalho "re.van.che"] L: Ah! Porque uma mina é mais bonita! [risos]. E se tivesse sido eu ficaria meio engraçado… P: Quanto tempo você demorou para fazer esse trabalho? L: Cerca de um mês. P: O que você sentiu quando o saco quebrou? [durante a performance de "re.van.che"] L: Tristeza e felicidade. Tapa na cara mesmo! Eu pensei o trabalho no espaço físico aqui do Paço das Artes, o quadradinho. Sempre tenho reservas para o caso de um trabalho quebrar (durante transporte, montagem, etc). Faço peças-reservas. P: Qual foi o projeto mais difícil que você já fez? L: Não tem… desta série aqui foi gerenciar a performance, que era algo que não dependia de mim. P: Era qualquer peça que poderia ter quebrado? Ela [a lutadora da performance de re.van.che] escolheu o que quebrar? L: Não, era só o saco mesmo. Se bem que ela queria quebrar a bola também! L: Esse foi um projeto que estou há 10 anos tentando desenvolver, tentando participar da Temporada de Projetos do Paço. Aprendo mais com isso do que acertando: tentei vídeo, xilo, e surpreendentemente entrei com cerâmica, e acho que assim supererei o preconceito com o material. P: Em que escola você estudou? L: Rudolf Steiner. P: O que você acha da imposição de que não se pode tocar numa obra de arte? L: A política “não toque” não é interessante. Adoraria que todos pudessem tocar. Se bem que às vezes as pessoas abusam. Mas quebrar é interessante: veja o que acontece!

“A gente é sempre ‘hóspede’ dentro da instituição: nem sempre é bem visto”

Na vez das três integrantes do grupo Hóspede falarem, muitos dos grupos de estudantes presentes tiveram que ir embora, assim a apresentação delas foi para um público bem menor que a do Laerte. O Hóspéde tem um trabalho bastante interessante e provocativo, e por isso a apresentação (também por projeção de imagens de trabalhos realizados) poderia ter sido um pouco mais lenta e detalhada para uma melhor discussão dos trabalhos, o que não foi possível pois a seção do Portfólio se alongou um pouco.

Érica Ferrari, Carolina Caliento e Flora Rebollo falam sobre os trabalhos anteriores do Hóspede

Érica Ferrari, Carolina Caliento e Flora Rebollo falam sobre os trabalhos anteriores do Hóspede

As integrantes começaram falando da origem do grupo, que aconteceu em 2005 em uma disciplina de Escultura da prof. Ana Maria Tavares, na ECA-USP, e na qual Jorge Menna Barreto era professor assistente. A proposta feita para a disciplina era que os alunos realizassem trabalhos pensando nas especificidades do Departamento de Artes Plásticas. A disciplina também gerou o intercâmbio “Brasília hospeda São Paulo”, no qual alguns alunos da ECA fizeram uma expedição para Brasília para realizar um trabalho na Galeria de Bolso da Casa de Cultura da América Latina. Naquela época o Hóspede tinha 7 integrantes, depois, já de volta a SP, foram só 6 por muito tempo (até hoje, serem somente 3). As atuais integrantes afirmaram que usam desde o início a estratégia de fazer projetos para enviar para editais e assim conseguirem pró-labore para realizarem os trabalhos. Para o “Edital de Ocupação dos Espaços da Caixa Cultural“, em 2006, o Hóspede enviou um projeto para realizar uma ‘Casa de Penhores’, mas, apesar de selecionado, o projeto não foi realizado por problemas na instituição, que atrasou o projeto diversas vezes até que ele foi cancelado! Também em 2006, o Hóspede foi selecionado no Salão de Exposições de Santo André, São Paulo, onde construiram um grande banco no saguão do Paço Municipal para que as pessoas que ficavam esperando para entrar no teatro tivessem acomodação. Já para o  Prêmio Flamboyant (hoje extinto), do  Salão Nacional de Artes de Goiás, o grupo criou também um lugar de acomodação, só que dentro da sala de exposição, que ficava no Flamboyant Shopping Center e onde estavam expostos outros trabalhos selecionados, o móvel criado pelo grupo ironizava a estética de assentos dos shoppings centers. Em 2007, o Hóspede foi contemplado com um grande incentivo vindo do “Concurso de Apoio a Produção nas Áreas de artes Visuais, Fotografia e Novas Mídias” do Programa de Ação Cultural da Secretaria do Estado de São Paulo. O grupo realizou o projeto “Laboratório Hotel” — formação de centro de estudo e residência no Largo da Batata, região que estava prests a iniciar um processo de reconversão urbana. Segundo uma das integrantes “É difícil dizer o que foi…”. Mas, em linhas bem gerais, pretendia criar um centro sócio-cultural temporário que ficasse em contato com a condição urbana do entorno. A preocupação com a arquitetura urbana é parte dos projetos criados pelo Hóspede, que se diz interessado em questionar e ironizar essa “nova arquitetura que é fruto da especulação imobiliária de empresas; uma arquitetura monumental que vai representar um empreendimento; uma  arquitetura pós-moderna, que é mais imagem que arquitetura, é como pintura, uma escultura que você transita (…)  É um elefante branco, um abacaxi, que aparece sem estudar a área e conhecer o entorno. Os projetos de arquitetura caem do nada sem saber o que acontece ali”, conforme afirmou uma das integrantes na apresentação. Ao final da apresentação algumas perguntas foram feitas ao grupo em relação ao trabalho apresentado no Paço das Artes, um extenso tapume que cobre toda a entrada do edifício do Paço das Artes bem como uma série de ações que indicam que aquele lugar passará por um processo de reconversão, se tornando um “Pineapple Luxury Complex “. A maioria das pessoas disseram não ter percebido que aquilo se tratava de um trabalho de arte até aquele momento. O grupo respondeu afirmando que o trabalho pode e funciona com diversos públicos: existem pessoas que passam de carro pelo Paço e não percebem como arte. Isso, nas palavras do grupo, seria uma atitude perversa, de criar uma situação que parece real. “A arte não precisa ser didática”, afirmaram, “queremos pensar um trabalho para o lugar, pensar sobre o espaço, se as pessoas entendem se é obra de arte ou não é problema delas!”. As integrantes do grupo argumentaram também que na Universidade aprenderam a questionar as coisas ao redor, e não somente fazer ‘objetos estéticos’. “Trocar com as pessoas” e conversar sobre o que as atinge são coisas que o Hóspede disse estar buscando. O artista Cristiano Lenhardt, por não residir em São Paulo, não pôde comparecer ao evento.

Projeto Portfólio: primeiro encontro

O núcleo educativo do Paço das Artes organizou um encontro com os artistas que estão expondo na Temporada de Projetos 2009, Regina Parra, Claudio Matsuno, e Sérgio Bonilha e Luciana Ohira, para um bate-papo com educadores e interessados. O objetivo desse encontro, que faz parte do Projeto Portfólio, era que os artistas falassem sobre suas obras em exposição, mostrassem trabalhos anteriores, obras que considerassem referenciais e relatassem suas trajetórias e expectativas.
Clique na imagem para ver a galeria de fotos realizadas no Projeto Portfolio.

Clique na imagem para ver a galeria de fotos realizadas no Projeto Portfolio.

Às 15:20hs o Paço já estava com bastante gente que iria participar do encontro. Por causa da chuva forte que caiu em São Paulo nesse dia, muitas pessoas ficaram presas no trânsito e o evento acabou sendo atrasado em uma hora. Às 16h00 Regina Parra iniciou a sua apresentação. Começou contando a sua experiencia com teatro, quando aluna do curso de artes cenicas da ECA-USP e integrante do grupo do diretor Antunes Filho, o CPT. Ela comentou que foi no CPT que entrou em contato com muitos daqueles que considera referências suas hoje, como Godard, Tarkovski, Kazuo Ohno, Sokurov e Pina Bausch. Com o Antunes ela contou que aprendeu que “antes do ator, existe o homem”, ou seja, que “como artista não basta fazer uma coisa que não tem a ver com a vida, é preciso estar aberto para outras coisas”, disse. Regina foi morar no Rio de Janeiro, e enquanto trabalhava de garçonete fez cursos na Escola Parque da Lage. Voltando para São Paulo, trancou a faculdade de artes cênicas e ingressou no curso de artes plásticas da FAAP. Seus interesses no inicio eram o desenho, o vídeo e a fotografia. A pintura só lhe veio despertar o interesse a partir da sala do pintor alemão Luc Tuymans, na 26a Bienal de São Paulo, em 2004. Depois dessa influência ela contou como foi o processo da criação da sua primeira pintura, que surgiu a partir de uma fotografia. Segundo ela, a intenção foi partir da fotografia para a pintura para poder realçar características presentes na primeira através da segunda; mais precisamente, torná-la mais dramática. O resultado desse busca acabou sendo uma série de 12 pinturas realizadas a partir de fotografias de pessoas em frente à Igreja de Aparecida do Norte, com o qual ela ganhou o primeiro prêmio da 38a Anual de Artes da FAAP. Segundo a Regina, foi a partir desse prêmio que surgiu um convite para ser representada em uma galeria, o que ela considera a sua entrada no “circuito da arte”. Ela prosseguiu contando mais sobre as séries de pinturas que se seguiram, como “Vertigem”, na qual são pintadas pessoas em momentos de horror, mas sem que ele fique explícito, sempre pinturas advindas de fotos familiares, ou com uma aparência familiar, mas ao mesmo tempo ambígua. A série seguinte “Devir” trata de momentos em que algo conhecido vai acontecer, mas que não contém a informação do que  vai acontecer; segundo a Regina a busca seria então por esclarecer se a imagem já contém a tensão do fato que acontecerá ou se são os espectadores que imprimem essa tensão. A série seguinte, chamada “Controle”, utiliza imagens captadas por câmeras de vigilância. Novamente, segundo a Regina, a intenção era explorar a efemeridade das imagens descartáveis captadas por essas câmeras no processo de pintura à óleo. Além disso, existia ainda um interesse pelas imagens midiáticas (de uma grande coleção de recortes de jornais que ela mantém), já que as figuras da série “Controle” eram pessoas como a Princisa Diana e outras, em momentos antes de uma grande tragédia. Essa recorrência da tragédia a Regina atribuiu à sua formação no CPT e o interesse e estudo que lá existia pelas tragédias gregas. Finalmente, ela falou sobre “Mise-en-scène”, série de pinturas expostas no Paço. O processo se dá novamente pela utilização de imagens de câmeras de segurança, mas, dessa vez, são imagens capturadas por uma assistente quando a própria Regina entra em cena. A busca seria então por um momento de dúvida entre o que é encenado e o que é real. Ela terminou referenciando Arlindo Machado, que, segundo ela, diz que as imagens de câmeras de segurança criam automaticamente suspeitos e culpados, em imagens que estão em estado constante de alerta, onde, a todo momento, algo pode acontecer. Depois da fala da Regina, foi a vez de Claudio Matsuno mostrar trabalhos antigos. Ele começou com trabalhos de 1993, época em que estava na faculdade, que segundo ele eram trabalhos muito academicos que seguiam uma tradição da arte (exercicios de luz e sombra, cor, modelo vivo, releituras de obras, etc). “Durante a faculdade nunca tive experiencias de bienal”, afirmou. Segundo o artista, ele não tinha a intenção de ser artista, pensava em trabalhar com arte educação. Foi a partir de 1994, quando ele começou a frequentar mais o circuito artístico contemporaneo e ter contato com grupos como a Casa 7, que se interessou mais em atuar como artista. Com influencia da arte alemã tais grupos faziam uma pintura que era, segundo Matsuno, “meio suja”. Outro artista referencia para a formação de Matsuno foi o pintor espanhol Antoni Tapies que não tinha preocupação de esconder os erros. O erro, o improviso e a “tosquisse” se tornaram objetivos dos trabalhos de Matsuno. Da pintura, o artista tentou recuperar o habito do desenho: “e aí deu certo”. Mas afirmou a dificuldade e o seu desinteresse em decidir por um “estilo”, por uma linguagem específica. Outra comentário que o artista fez, foi em relação à sua prática de ateliê: “Muita gente acha que ateliê é coisa ultrapassada, mas eu não vejo nenhum problema.” Em 2003 Matsuno passou a ser representado pela galeria Leo Bahia, em Belo Horizonte. Realizou exposições no Centro Cultural São Paulo (2006), na galeria ACBEU, em Salvador 2007), entre outras. O artista disse que suas obras atuais não são trabalhos finais, e sim processos, em que “força” um diálogo de um trabalho para outro. Além disso, disse que nelas não existem questões filosóficas, um motivo pelo qual as faz, e sim questões plásticas, baseadas na busca pelo erro: “acerto quando eu erro”. E em relação à linguagem do desenho também afirmou: “não quero ser muito inovador. Não estou trabalhando com a novidade.” Já no final da sua apresentação, Claudio Matsuno falou sobre projeto e elaboração de seu trabalho: “não é o que você coloca no portfólio que é o que vai aparecer no trabalho – o espaço influencia muito.” Uma professora perguntou ao artista como ele, como professor de artes, trabalhava a questão do erro em sala de aula. Matsuno sugeriu ver o erro como processo do desenho. Já estava tarde e alguns grupos de pessoas que estavam no encontro tiveram que ir embora. Na fala do Sérgio Bonilha e da Luciana Ohira formou-se uma platéia menor que pode ficar mais próxima aos artistas e participar de uma conversa mais informal. A dupla iniciou contando experiencias anteriores ao ingresso no curso de Bacharelado em Multimídia e Intermídia da Faculdade de Artes Plásticas da ECA-USP: os dois falaram da importância da visita à museus de arte desde pequenos, a Luciana exibiu imagens que fez em laboratório fotográfico, e o Sérgio falou do seu contato com o grafitte, entre os seus 14 e 18 anos. Os dois se conheceram na faculdade e começaram a elaborar trabalhos juntos a partir de 2004, muitos deles surgiram desde de provocações dos editais. É o caso do 13° Salão Unama de Pequenos formatos, em que os artistas, instigados em saber o porquê e o como fazer um trabalho de pequena escala, criaram um museu em miniatura. Ainda sobre a faculdade, Bonilha afirmou ter obtido um suporte técnico-formal, “mas era um universo muito fechado, ficou a lacuna do homem”, completou. Foi somente por meio da experiência com a área da educação que teve contato com um questionamento mais profundo sobre o mundo e começou a ler autores como Foucault. Das referências artísticas, a dupla citou os artistas Guto Lacaz, que, segundo eles, tem um caráter generoso, humorístico e humano nos trabalhos, e os trabalhos de Pedro Paiva e João Maria Gusmão. Os dois comentaram um trabalho com lâmpadas queimadas que seriam transportadas por pelo menos 1000 km que já foi enviado para mais de 10 editais e nunca foi realizado. A partir desse trabalho falaram que existe uma plasticidade da arte póvera nos trabalhos que realizam, no interesse pelo uso materiais ordinários como as lâmpadas queimadas. Sobre projetos não realizados, Luciana e Sérgio citaram outro caso em que o projeto foi aprovado por um salão, mas os responsáveis pela mostra não conseguiram se organizar para que o projeto fosse executado. Sobre a elaboração de Projetos, os artistas costumavam a escrever textos de apresentação mais densos, com referências à história da arte, mais academicistas, com nota de rodapé, introdução e conclusão. “Usávamos palavras difíceis como ‘imanência’, afirmaram. Depois que eles conheceram o Lourival Batista, artista que entrou no Programa Rumos Itaú Cultural na edição de 2005-2006 e que usava uma linguagem muito mais coloquial para explicar seu trabalho, Luciana e Sérgio buscaram tornar os textos de seus projetos mais acessíveis e simpáticos. Para um trabalho enviado ao 12o Salão dos Novos de Joinville, em 2005, os artistas abriram um edital divulgado por um periódico local para recrutar obras em miniaturas para um pequeno museu de 1:100. Essa é uma idéia de um museu transportável. A obra ganhou o prêmio aquisitivo do Salão de Joinville, porém a aquisição regressou a expansão infinita originalmente planejada para o projeto. Segundo os artistas, os trabalhos que eles vêm desenvolvendo têm uma características de mostrar como funcionam, elaboram máquinas transparentes, seguindo a idéia da filosofia da caixa preta do Vilem Flusser. Luciana e Sérgio demostram uma constante preocupação com a relação com o público. Para uma exposição no Centro Universitário Maria Antônia, realizada pelo Programa Nascente (da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da USP), na ausência de um serviço educativo, os artistas distribuíram ao público cartões com o endereço de um website criado por eles, contendo informações sobre o trabalho exposto. Num outro contexto, no Centro Cultural São Paulo,  os artistas resolveram ampliar a proposta da exposição apresentando os desenhos prévios também utilizando os cartões e  o website. A conversa com o Sérgio e a Luciana só terminou porque o Paço das Artes tinha que fechar. Já havia passado das 19hs e o evento tinha durado aproximadamente 4 horas!