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em: 27/02/2009

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Encontro com Paula Alzugaray

A crítica de arte e pesquisadora Paula Alzugaray tinha acabado de chegar em Paris, onde está realizando um estágio no centro de novas mídias do Centre Pompidou, e combinamos de almoçar com ela. A Paula foi uma das juradas do Edital Temporada de Projetos 2009 e também foi uma das pessoas que indicamos, no projeto inicial, para orientar um dos workshops da Temporada de Projetos na Temporada de Projetos. No café do Pompidou, conversamos sobre o andamento do projeto e como pensávamos a atuação dela na orientação do workshop de elaboração de projetos. O mais marcante foi a reação dela ao saber que muitas pessoas estavam decidindo não participar da Temporada de Projetos na Temporada de Projetos por acreditarem que seus projetos não tinham o nível de qualidade que elas próprias gostariam. Conforme nós mesmos já havíamos nos perguntado, a Paula levantou então a intrigante questão: por que enviar um projeto desses para ser avaliado por um júri certamente bastante crítico e composto por profissionais da área — para o qual imaginaria-se que o artista teria o interesse de mostrar o melhor de seu trabalho —, mas não deixar que o mesmo projeto fosse mostrado para o público do Paço? Sobre a participação dela, esclarecemos que seria mais interessante se ela conversasse com os participantes sobre a elaboração de projetos e trabalhos, não fazendo do workshop somente uma avaliação de como os projetos são apresentados, ou seja, uma discussão de conceitos dos trabalhos em si e não da formatação dos projetos. Ela própria levantou que o fato de ter sido uma das juradas da seleção poderia ser uma possível fonte de problemas na medida em que daria margem para que algum participante encarasse o workshop como uma oportunidade para tirar satisfações sobre a seleção, o que realmente não é o intuito do workshop. Por isso, permaneceu em aberto a possibilidade de restringir os projetos participantes no workshop somente a aqueles que não tenham sido enviados à Temporada de Projetos do Paço. A Paula também nos avisou de uma exposição recem inaugurada no Pompidou: “Vides” (“vazios”), que trata de exposições vazias propostas por diversos artistas. Veja o texto da própria Paula sobre a exposição para a revista Istoé.
Fotografia de uma das salas vazias do Centre Pompidou, para a exposição retrospectiva "Vides", composta apenas por salas vazias

Fotografia de uma das salas vazias do Centre Pompidou, para a exposição retrospectiva "Vides", composta apenas por salas vazias

em: 19/02/2009

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Encontro com Hans Ulrich Obrist

Não sabiamos muito bem o que iria resultar do encontro que marcamos com o curador franco-suiço. Pretendíamos conversar muitas coisas, saber detalhes sobre os projetos que ele vem realizando e contar sobre a Temporada de Projetos na Temporada de Projetos. Não tínhamos nenhum convite específico para fazer a ele. Sabíamos que iria ser “a very informal talk”, “briefly”, “even just a “coffee break”, conforme combinamos nos e-mails mediados pela secretária dele, Lorraine Two. Talvez ele faria algum comentário ou sugestão pertinente para o nosso projeto, falasse do formato de exposições e palestras ou do caráter interdisciplinar da proposta, como fez o Boris Groys. Enfim, fomos ao encontro sem um objetivo definido, afinal, considerávamos ele “o cara da conversa“, então, esperávamos que assuntos interessantes fossem surgir de qualquer modo.
Prédio onde se encontra o escritório de Hans Ulrich Obrist em Londres.

Fachada do prédio onde se encontra o escritório de Hans Ulrich Obrist em Londres.

Eram dez e pouco de uma manhã de quinta-feira e estávamos um pouco atrasados (demoramos para encontrar o endereço), mas mesmo assim esperamos mais alguns minutos para Mr. Obrist nos receber no apertado escritório próximo ao Hyde Park, em Londres. Podíamos escutá-lo falando ao telefone em inglês e alemão desde a saleta que estávamos. Estava um cheiro ruim, e uma das duas simpáticas assistentes do HUO presentes na sala pediu desculpas dizendo que o cheiro vinha de um problema no frigobar. A saleta, que mais parecia um pequeno corredor, continha uma estante bagunçada com todos os livros de autoria do HUO e pilhas e pilhas de pastas-arquivo de entrevistas realizadas por ele. Quando nos chamaram para entrar na sala, também pequena e desorganizada, que se encontrava Mr. Obrist, ele continuava no telefone, e mesmo depois, enquanto conversávamos com ele, a cabeça dele parecia “dontstopdontstopdontstopdontstop…“: mandava mensagens pelo celular, riscava um papel, olhava pro lado, olhava para baixo, olhava pra cima, e fazia comentários breves, bastante breves, a respeito do que falávamos. Um deles foi que ele virá para o Brasil em Junho para lançar parte da sua série de livros de entrevistas, e também que ele já havia visitado o país em 2002 para conversar com o Prof. Walter Zanini, junto com o Ivo Mesquita e o Adriano Pedrosa, para uma coletânea de entrevistas só com curadores que gerou o livro recém lançado “A brief history of curating“. Outro comentário foi que pensa as “maratonas” que organizou como se fossem um woodstock de conversas com artistas, no sentido de que uma conversa ocorre atrás de outra por um longo período de tempo. HUO pareceu bem incomodado com as coisas que ele tinha para fazer, e nosso encontro, que durou apenas 15 minutos, acabou parecendo um fracasso. Ao contrário do que imaginávamos, talvez ele esperasse algo mais objetivo. Não conseguimos comentários sobre a nossa curadoria e nem saber mais detalhes das curadorias que ele vem realizando ou realizará.  Todas as respostas que tínhamos pareciam desinteressadas. Ele nos presenteou com o livro “Do it“, versão realizada por estudantes do “VCA Centre for Ideas” (de Melbourne) e do “Central Academy of Fine Arts” (Beijing). Segundo ele, o projeto “Do It”, que nós já conhecíamos, tem similaridades com nosso projeto de curadoria. O “Do it” surgiu em 1993 a partir de uma conversa de Hans Ulrich Obrist com os artistas Christian Boltanski e Bertrand Lavier no Café Select, em Paris, e desde então consiste em um modelo de exposição móvel, aberta, e em curso, em que artistas elaboram instruções/procedimentos de execução de trabalhos que podem ser feitos em diversos locais (funciona como uma partitura musical). Parte da idéia de que de uma mesma instrução, executada por indivíduos diferentes e/ou em locais diferentes,  são criadas interpretações distintas e, consequentemente, obras distintas. Nos despedimos, e ficamos de nos falar na vista de Hans Ulrich ao Brasil, em Junho de 2009. Em seguida fomos ver a exposição “Indian Highway” na “Serpentine Gallery” e após a visita sentamos  na frente da galeria para esperar uma amiga chegar. Abrimos os livros que Hans Ulrich Obrist nos presenteou. Durante nossa leitura, o curador e autor dos livros que estavam nas nossas mãos passou por nós e entrou na galeria.
em: 24/01/2009

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Encontro com Boris Groys

Fotografia de um poste em Karlsruhe com poster da exposição "Medium Religion" ao lado de poster de feira erótica.

Fotografia de um poste em Karlsruhe com poster da exposição "Medium Religion" ao lado de poster de feira erótica.

Fomos ao ZKM (Zentrum für Kunst und Medientechnologie), em Karlshure, Alemanha, onde ocorria uma exposição organizada pelo curador, crítico e filósofo alemão Boris Groys, chamada “Medium Religium“. A exposição foi inspirada em um vídeo realizado pelo Groys, também chamado “Medium Religium”, que se encontrava exposto entre as obras. Usando exemplos de vídeos de propaganda religiosa e de trabalhos de artistas contemporâneos a exposição busca demonstrar o aspecto midiático das diversas religiões existentes hoje. Fizemos uma visita rápida à exposição pois havíamos marcado um encontro com o Professor Groys e chegaríamos atrasados se tivéssemos visto tudo com calma. No lobby central do ZKM, as 15h00 de um sábado, encontramos com o Professor Groys. De porte grande, olhos azuis, cabelos grisalhos suavemente arrumados em um topete, e vestindo um blazer sobre uma camisa. Logo ao nos conhecer a reação foi de surpresa, provavelmente ao ver que somos realmente jovens, já que foi a primeira vez que nos vimos e talvez ele estivesse esperando curadores, digamos, mais “curadores”. Depois de uma breve apresentação, ele nos convidou — e aceitamos — para uma visita à exposição. A atendente da bilheteria nos devolveu os €uros que havíamos pago para ver a exposição pela primeira vez e nós seguimos o Professor Groys. No caminho para a exposição, pelos longos e espaçosos corredores do ZKM, ele nos contou sobre a origem do ZKM, em 1989, onde ele também é professor. Na visita — ele foi nos guiando começando pelo o que ainda não havíamos visto — Groys comentou os trabalhos que achava mais relevantes. Nos contou um pouco sobre o processo da seleção dos trabalhos, que havia começado há muitos anos quando ele trabalhava numa instituição em Israel. Ele também comentou sobre o largo escopo de participantes da exposição, que incluía não só trabalhos de artistas de renome internacional, mas também um seu, de outros intelectuais, de alguns de seus estudantes e também de “não”-artistas. Ficamos surpresos em saber que foi nessa exposição que o artista Gregor Schneider teria a oportunidade e apoio legal para executar o trabalho em que um voluntário morreria na exposição, mas Schneider acabou entrando na seção de documentação da exposição com outro projeto. Após a visita à exposição sentamos com o Groys para tomar um café e conversar sobre a Temporada de Projetos na Temporada de Projetos. Já que ele confessou não ter lido a versão em inglês que lhe enviáramos por email há alguns dias, contamos detalhadamente o projeto. Ele ficou interessado e disse que havia escrito um texto sobre a elaboração de projetos que ele imaginava se relacionaria muito bem com a nossa proposta. Um dos primeiros comentários sobre nossa proposta que ele esboçou foi um aspecto que ele chamou de “crueldade” da nossa parte, já que não deixaríamos os artistas “perderem” aquilo que queriam, estaríamos negamos o direito dos artistas de “falharem”. Lembrou-se de uma pesquisa de opinião pública na qual norte-americanos de classes baixas recusavam uma proposta da então candidata a presidente Hillary Clinton segundo a qual os cidadãos mais abastados pagariam mais impostos para serem revertidos em planos de saúde aos mais pobres. De acordo com Groys, a pesquisa apontava que as classes mais baixas, numa curiosa inversão, recusava a proposta ao considerar um cenário hipotético em que eles se tornassem mais ricos e então tivessem que pagar aos membros de sua classe anterior. A questão se torna complexa pois de uma projeção futura irreal surge um descontentamento com uma situação presente e real. Dentro desse contexto, Groys levantou a possibilidade de algumas recusas a participação na Temporada de Projetos na Temporada de Projetos se darem pelo desconforto que um aceite poderia gerar nos artistas selecionados. Em seguida, sobre a idéia do fracasso, afirmou que acredita que o projeto que falha pode ser até mais interessante que o projeto realizado, pois quando realizado o processo acaba e é “engolido” pelo produto, resume-se apenas ao produto final. O projeto que falha, segundo ele, tem o valor do processo (coisa que realmente sobra). Complementou dizendo ainda que a vida das pessoas é um projeto que falha, pois ela termina na morte, e assim deveríamos pensar a vida como processo e não como os produtos gerados por ela*. Citamos algumas reações que apareceram ao projeto por parte dos artistas convidados para participar da Temporada de Projetos na Temporada de Projetos e ele sugeriu que publicássemos nosso diálogo com esses artistas pois seria um material muito rico para entender o processo. Após falarmos desse que acreditamos ser o modelo de produção artística brasileira, mediado por salões de arte, Groys nos falou da situação dominante nos EUA e da Europa, onde os artistas tomam uma de duas direções — ou seguem um de dois modelos — básicas e bem contrastantes: o mercado de arte (venda de obras, muito mais freqüente nos EUA) e o “scholarship” (sistema de bolsas, residências, e outros tipos de incentivos para formação). Quando falamos da intenção de realizar encontros dentro da exposição e, através deles, explorar formatos diferentes de palestras Groys comentou sobre a sua pesquisa nessa área e compartilhou o nosso descontentamento com esse formato fechado e difundido palestrante-microfone-mediador-público. Por fim, o Groys sugeriu que falássemos com Anton Vidokle, já que ele também se interessaria muito pelo nosso projeto. No dia seguinte Groys nos enviou um texto bastante reflexivo sobre a vida entre projetos: “The loneliness of the project”. [*] – Groys nos presenteou com o vídeo de sua autoria “Thinking in Loop” que busca pensar o filme como mídia. Uma das questões interessantes que ele trata é a relação com a noção de imortalidade, afirmando que as pessoas planejam (projetam) suas vidas para deixarem um legado após a morte; e também que a vida dos objetos de arte dentro dos museus é uma vida após a morte.