Arquivo da categoria "encontro"

em: 26/03/2009

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Encontro com Cayo Honorato

O Cayo Honorato, artista e educador, propôs que conversássemos com ele sobre a Temporada de Projetos na Temporada de Projetos” a partir de uma idéia de “invenção artística”. E sugeriu duas entradas:
1. a de que o projeto possa efetuar, se já não o faz conceitualmente, uma redistribuição de poderes em relação a um comum, nos termos do Rancière [Jacques Rancière, filósofo francês], entre selecionados e não-selecionados, curadores e artistas, etc. 2. a de que ele possa articular de algum modo a condição conceitual e a processual das práticas artísticas contemporâneas, na discussão entre projeto e resultado, sobretudo, levando-se em conta a lógica dominante do formato projeto, a informar um tipo particular de produção, talvez em detrimento de outros.
O Cayo achou a nossa proposta bastante relevante e quis saber como ela surgiu. Falamos da ausência de retorno que tínhamos sobre os projetos que elaboramos bem como de uma frustração de quando eles são selecionados. Além disso, explicamos o porquê de termos optado por um projeto de curadoria, apesar de sempre existir uma dúvida de uma “categoria” das coisas que fazemos. O Cayo fez um comentário pertinente a esse respeito, afirmando que são práticas que ainda não têm um lugar específico, e que surgem mas não cabem nesses modelos. O Cayo mesmo lembrou de uma afirmação feita pelo Boris Groys no livro “Art Power“: o novo aparece no mesmo.
Capa do livro Art Power de Boris Groys

Capa do livro "Art Power", de Boris Groys

Falamos também sobre alguns desdobramentos e reações dos artistas e curadores convidados para participar. Sobre as circunstâncias atuais do “pensamento projetual” em geral, o Cayo se referiu a uma “neurose” que se expressa num frequente desacordo entre intenção e realização, vontade e ato, sentimento e acontecimento. Sobre isso, lembramos da conversa que tivemos com o Groys e de uma noção de dissincronia, entre projeto e realização, na qual ele se refere num texto que nos enviou ainda não publicado. Segundo a fala do Cayo, “pro-jetar significa ‘lançar adiante’, o que implica uma decisão inicial e uma indeterminação final”, porém “por vezes nos esquecemos disso, acreditando que o sentido está no fim.” E apontou que “disso decorrem tantos perigos objetivos, mas para ficarmos com uma dimensão apenas do equívoco: segundo Hannah Arendt, ‘nem a liberdade nem qualquer outro significado podem ser jamais o produto de uma atividade humana no sentido de que a mesa é, evidentemente, o produto final da atividade do carpinteiro’ (in: entre o passado e o futuro, p. 113). Enfim, é nesse intervalo deslizante que se move a consecução de um projeto – o que levanta questões políticas e históricas, além de estéticas.” Durante a conversa, outra questão foi debatida a partir da provocação do Cayo: “o modelo de editais e seleção de projetos muda a arte?”. Como essa lógica determina um tipo de arte, privilegiando um tipo de produção? Acreditamos que a pergunta do Cayo é válida e não tem ainda uma resposta satisfatória, mas que pode ser explorarada desde já e também nos encontros que planejamos para a Temporada de Projetos na Temporada de Projetos. De fato existem tipos de produção que se adequam ao formato de projeto facilmente, como os trabalhos de fotografia em que o que geralmente varia entre projeto e obra é o tamanho das fotos. Ou seja, o trabalho pode ser visto claramente no projeto. Comentamos também a exigência dos editais por um formato específico de projeto que de certo modo pode definir algumas características do trabalho. Por exemplo, muitos editais pedem a classificação da obra (pintura, escultura, gravura, fotografia, novas mídias, etc.) ou um dado número de fotos de trabalhos diferentes, coisas que nem sempre todo artista tem claro ou que todo trabalho pode ser adequado. Além disso, os formatos nos quais os projetos são aceitos raramente se estendem para além do texto impresso, sendo que, não poucas vezes, há até limitações no tamanho e tipo do papel a ser usado! Lembramos que falta uma noção mais clara do que é um projeto, qual deve ser o seu escopo, seu objetivo como projeto. Particularmente consideramos que o projeto pode ser encarado como uma proposta inicial, que não necessariamente indica o que vai ser ser feito passo-a-passo. Muitas vezes existe muito tempo entre o momento da elaboração do projeto e a realização dele; ou seja, há muito tempo para que as coisas mudem (bastante). Mas acreditamos que isso não passa de uma consideração particular e que certamente pode ser abordada de muitas outras formas, não só por artistas ou curadores, mas, mais importante, por membros de júris que analisam projetos; que podem, por exemplo, esperar que o projeto seja uma descrição absolutamente fiel do que vai ser realizado quando aprovado (como é esperado em diversas outras áreas de produção humana que envolvem prestação de serviços para um cliente, como, por exemplo, costuma ocorrer na arquitetura). Por fim, em decorrência de uma pensamento que surgiu após o encontro com Milton Sogabe, discutimos a idéia do “novo”, do ineditismo, ou da originalidade, que são, mais do que qualidades, critérios cobrados por esse modelo. Assim, por esse modelo, a arte estaria então atrelada à idéia do novo. As instituições, para sua promoção, querem algo novo bem como também esperam um determinado tipo de produção. E chegamos a um mar sem fim sobre essa idéia. Lembramos do trabalho da Sturtevant, no qual o “novo” está na cópia do “velho”, ou seja, um novo que não é novo; o Cayo lembrou da Sherrie Levine e o seu “After Waker Evans“. Ambas são um exemplo de que o novo aparece no mesmo… Indiferentemente de como o novo surge, parece que ele é mesmo um critério para que haja interesse sobre um trabalho, o que faz da originalidade uma característica que permanece na arte.
em: 25/03/2009

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Encontro com o Núcleo Educativo do Paço

Marcamos uma reunião com o educativo do Paço das Artes para pensarmos uma ação de mediação para a exposição Temporada de Projetos na Temporada de Projetos. Participaram dessa reunião a Nathalia Meyer da equipe de produção, e a Christiana Moraes e a Maralice Camillo do serviço educativo. Começamos dizendo que seria importante os educadores orientarem o manuseio dos projetos durante a exposição e, nessa função, encontrar uma possível porta de entrada para um diálogo com o público visitante. Além disso, afirmamos a possibilidade do educativo ter um espaço no site projetosnatemporada.org. Comentamos também que seria interessante a elaboração de um material educativo para ser distribuído na exposição. A Christiana perguntou se nós já havíamos pensado no texto crítico que estaria tanto no folder como no texto do espaço expositivo, e afirmou a importância que eles tem na “questão ideológica” da exposição. Ela continuou nos contando sobre o “Projeto Portifólio”, iniciativa do serviço educativo do Paço das Artes, que visa desmistificar o trabalho do artista, convidando os artistas que estão expondo para mostrarem trabalhos anteriores e falarem sobre suas trajetórias. De fato existem proximidades com a Temporada de Projetos na Temporada de Projetos. Discutimos algumas estratégias para lidar com o público espontâneo, as escolas que visitam o Paço em grupos de aproximadamente 20 estudantes, e a comunidade da USP. Temos nos preocupado muito em nos aproximar desta última, pensando em estabelecer intercâmbios entre diversas disciplinas na reflexão sobre a elaboração de projetos. A reunião levantou muitas questões e deixou claro que muito ainda deverá ser pensado. Assim que outras atividades estiverem melhor definidas, como palestras e worshops, bem como a expografia, ficará mais fácil também de lidar com tais questões.
em: 24/03/2009

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Encontro com Tadeu Chiarelli

Na recém-improvisada área de convivência do Departamento de Artes Plásticas da USP, conversamos sobre curadoria e processos curatoriais ligados a projetos artísticos com o intuito de instigar o crítico, curador, historiador e professor Tadeu Chiarelli à um convite para que participasse da Temporada de Projetos na Temporada de Projetos. Um dos motivos para tê-lo chamado é a extensa e crescente lista de participações em júris de editais em todo o país. Mas, claro, o que interessa muito é que, além disso, ele também exerce a posição de curador e crítico de arte, o que permite uma abordagem em contraposição por experiência própria de cada um desses papéis. A nossa conversa começou com uma explicação básica sobre o projeto, onde contamos as idéias principais, o funcionamento da autorização, as reações dos artistas convidados e como incluí-las na exposição. Falamos um pouco também sobre como vemos a ligação do Paço com a USP e algumas formas que pensamos de convidar docentes de outras áreas para participarem de atividades ligadas à exposição para abranger interesses de outras unidades da USP que sejam ligadas ao tema dos projetos, quase que numa tentativa de conectar o Paço com a USP por meio de uma abordagem interdisciplinar. Ligado ao tema dos editais, Tadeu contou um pouco sobre algumas características que ele destaca de suas experiências, principalmente como vê a sua bagagem como crítico e curador influenciar na prática de seleção em júris e como isso acaba ficando claro no momento em que essa seleção é realizada em conjunto com outros profissionais. Além disso, contou como, em alguns salões, há ainda uma incompreensão sobre qual é o papel do curador e, não raro, está entre suas incumbências a montagem da exposição. Numa segunda colocação, Tadeu se disse bastante surpreso com o crescente interesse em curadoria nos últimos anos. Interesse esse que o alcança diretamente não só por ter vasta carreira em curadoria, mas também pela posição que ocupa dentro do Departamento de Artes Plásticas, contexto universitário onde, segundo ele, houve recentemente uma intensificação sobre o  debate sobre a “profissionalização” dessa posição. Para ele, um grande problema relacionado a esse debate é uma relativa falta de tradição da curadoria no país, ou seja, a inexistência de uma história dessa prática local ligada também ao fato do próprio conceito de curadoria ter poucas oportunidades para ser refletido sobre ou colocado em debate. Falta essa que acaba gerando a necessidade de uma base sobre a qual novas práticas curatoriais possam ser avaliadas, sejam as mais experimentais ou as mais tradicionais, seja positiva ou negativamente; enfim, que permita um posicionamento mais claro sobre a curadoria. Mais ainda, Tadeu disse não acreditar numa prática curatorial que seja uma prática profissional autônoma, ou seja, que não seja pautada em uma pesquisa — ou desenvolvimento de uma pesquisa — de crítica e de história da arte. Essa crença, ainda segundo ele mesmo, pode advir de sua formação ou mesmo de uma diferença geracional, mas que poderia ser esclarecida se as posições relativas ao tema se tornassem públicas e abertas.
Trabalho de Regina Silveira para o Projeto Parede do MAM

Trabalho de Regina Silveira para o Projeto Parede do MAM

Ainda nesse contexto, Tadeu explicou um pouco sobre o seu próprio processo como curador, que ele próprio chamou de uma abordagem muito particular, na qual ele sempre parte de um interesse por uma obra e não por um artista. O que, para ele, significa que a relação estabelecida é entre o curador e a obra e não entre o curador e o artista nem mesmo entre o curador e um projeto, que ele teria que acompanhar, já que ele prefere encarar a curadoria como um produto final sobre o qual ele possui controle e não como um processo. Mas foi aí que, lembrando de algumas práticas anteriores, ele se recordou da experiência que teve com o Projeto Parede do MAM, no qual era inevitável que buscasse um artista para desenvolver um projeto, já que há uma limitação muito concreta, clara e precisa: a parede. De qualquer forma, essa atuação distinta daquela que vinha relatando, segundo ele a única série de projetos que ele desenvolveu dessa forma com artistas, levou a uma breve reavaliação da maneira como Tadeu encara a sua prática, ainda de modo reticente, mas que, de qualquer forma, deixou margem para alguns pontos que podem ser abordados na sua palestra dentro da Temporada de Projetos na Temporada de Projetos.

Encontro com Milton Sogabe

Nas novas intalações do Instituto de Artes da UNESP, na Barra Funda, em São Paulo, conversamos com Milton Sogabe sobre sua participação na Temporada de Projetos na Temporada de Projetos. Na verdade, a reunião estava marcada para ocorrer uma semana antes, mas nos desencontramos do Milton no meio da mudança da UNESP para a Barra Funda e tivemos remarcar. Milton, além de professor da UNESP, onde ministra a disciplina de processos de criação e projetos interdisciplinares, é um dos membros do grupo SciArts. Foi por meio dessa disciplina que surgiu a idéia de convidá-lo para ministrar uma das palestras do projeto. Começamos o encontro explicando ao Milton, que já conhecia o projeto, alguns detalhes que ele ainda não estava a par e também como gostaríamos que fosse a participação dele em uma das palestras. A intenção é que essa seja a palestra mais pragmática de toda a exposição, ainda que com uma apresentação investigativa sobre salões, editais, e linhas de fomento no Brasil. Ele próprio sugeriu fazer uma análise crítica desse quadro. O Milton levantou alguns pontos interessantes para pensarmos sobre o projeto, sendo o primeiro o fato de se tratar de uma curadoria proposta por artistas. Como no projeto inicial enviado ao Paço, explicamos um pouco sobre como nos víamos nesse papel um tanto complicado e de difícil definição, mas a essa posição, que ele chamou de zona cinza entre artista e curador, Milton sugeriu que não deveria uma preocupação propriamente, já que correríamos o risco de se fechar em uma mera discussão terminológica que de fato não nos interessa. O segundo momento importante foi a avaliação do projeto como algo “novo” que, por isso, interessou a ele. Claro que se tratou de um comentário “en passant”, e com um intuito elogioso, mas, devido ao constante pensamento auto-crítico (e até à discussão iniciada no primeiro contato com os inscritos) ela voltaria a tona mais adiante pela via de uma re-avaliação desse critério (até mesmo no contexto do(s) edital(is) onde esse é um pre-requisito).
em: 18/03/2009

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Encontro com Ligia Nobre

Em quase três horas de conversa numa padaria na Rua Maranhão, em São Paulo, explicamos à Ligia os detalhes do nosso projeto e conversamos sobre como ela poderia atuar no desenvolvimento da expografia. Além de ouvir com muita atenção às nossas colocações e dúvidas, a Ligia deu muitas sugestões, principalmente em relação às pessoas que gostaríamos de envolver no projeto. Ela sugeriu sempre trazer aquelas que estejam “a favor” do projeto, já que, por mais que a intenção seja gerar o debate — e ele normalmente ser fruto das discordâncias entre as pessoas — ele não se torna saudável se a discordância for com o próprio projeto.
O Atomium, é o local onde ocorreu o projeto The Baudouin/Boudewijn Experiment de Carsten Höller

O Atomium, é o local onde ocorreu o projeto "The Baudouin/Boudewijn Experiment" de Carsten Höller

Em seguida, foi a Ligia quem contou mais sobre sua trajetória. Se formou em arquitetura pelo Mackenzie, mas sempre manteve um forte interesse em arte. Esse interesse levou ao seu envolvimento em projetos como o Arte/cidade, bem como a criação do exo experimental, que teve um importante papel na introdução de programas de residências no Brasil e de debates interdisciplinares. Em estadias na Europa trabalhou em projetos de Carsten Höller, Boris Groys e Raqs Media Collective. Depois de longo período fora, retornou ao Brasil recentemente para, entre outros, o desenvolvimento de um projeto em São Paulo com os arquitetos Herzog&DeMeuron. Em relação ao “exo”, que consideramos um projeto que teve importantes conquistas no pensamento interdisciplinar, explicamos a ela que, embora exista — desde a nossa proposta inicial — uma vontade de dar à exposição um caráter mais interdisicplinar, ainda não conseguimos desenvolver um módulo de palestras que tivesse essa abordagem. De volta às características específicas da exposição, conversamos também sobre a intenção de criar um espaço dinâmico, que fosse transformado — e transformável desde a sua concepção — ao longo do período da exposição. Além dos croquis que elaboramos para o projeto inicial, levamos para ela algumas referências de como poderia ser esse espaço, como as instalações elaboradas pelo projeto “curating degree zero” e a exposição “Section 7 Books“. No que se refere à participação dela na construção do espaço expositivo, consideramos que, como arquiteta, ela também estaria elaborando um projeto — o projeto expográfico — e assim gostaríamos também que ela falasse sobre esse projeto em um dos encontros, ou seja, encarando desde já a possibilidade de tematizar, dentro do contexto da produção de projetos, o projeto expográfico como um “projeto”. Ela já havia se interessado pela nossa proposta tanto pelo posicionamento crítico que ela identificava no projeto como pela origem dele; então a possibilidade de atuar, nesse meio, como arquiteta — posição que ela nunca chegou a exercer plenamente nessa área — a atraiu e ela disse que consideraria o convite.
em: 03/03/2009

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Apresentação para os curadores do South America Orientation Trip 2009

Foto dos curadores do South America Orientation Trip 2009

Foto dos curadores do "South America Orientation Trip 2009"

A convite do Fernando Oliva fomos apresentar o projeto Temporada de Projetos na Temporada de Projetos aos 20 curadores do South America Orientation Trip. Eles passariam 4 dias em São Paulo visitando museus, centros culturais e galerias, seguindo depois para Buenos Aires e Lima para fazerem o mesmo. Na passagem deles pelo Paço das Artes fizemos uma breve introdução ao nosso projeto e tivemos bastante receptividade. Muitos ficaram interessados e quiseram saber mais. Como o tempo deles era curto (eles ainda tinham que visitar outras instituições no mesmo dia) fomos convidados pela Mondriaan Foundation para participar do fórum que ocorreria no dia seguinte na Pinacoteca do Estado, e assim poderíamos continuar a conversa. Dado o grande interesse que eles demonstraram, resolvemos fazer uma versão em inglês do projeto e conseguimos colocá-la no ar no site já no dia seguinte. Além disso, como “projetosnatemporada.org” não é um endereço muito fácil de ser falado em inglês (muito menos entendido), acabamos registrando alguns atalhos: que são bastante mais fáceis de memorizar e passar adiante. Acesse o blog dos curadores e saiba mais sobre o que eles andam fazendo por aqui.